sexta-feira, setembro 23, 2005

Curtas da vida de casado....

- Porque razão sou sempre eu a fazer as camas nesta casa? – grita a minha mulher do quarto
- Se queres realmente saber a minha opinião, penso que isso é um sintoma de um comportamento obsessivo. Mas.....não sou psiquiatra. – respondo eu, com a óbvia esperança de a poder ajudar.
Conclusão: Ela não queria saber a minha opinião, pelo menos foi o que deduzi pela quantidade de asneiras que eu e a nossa filha nos apressamos a ir escrever no quadro do não gostei.


A pequena bufa da bufa de Deus:
- Então mocita, o que é que se passa?
- A mãe não me deixa comer um chocolate.
- Porquê?
- Porque diz que está quase na hora de jantar e que depois eu não como nada.
- Pois, se calhar tem razão. Sabes o que é o jantar?
- É sopa de nabo e depois são uns legumes esquisitos
- Haaa….mixórdia de legumes, pensava que isso tinha sido ontem.
- São os restos.
- Espera aí que eu vou buscar a lata dos chocolates para nós os dois.
- MÃE, O PAI VAI COMER CHOCOLATES E ELE NÃO PODE PORQUE O MÉDICO NÃO DEIXA.
- Cala-te, eu disse para NÓS OS DOIS.
- Pois, mas tu acabas sempre por comer quase todos porque eu tenho a boca mais pequena e depois quando eu quero comer já não há mais. E depois a mãe disse que tu não podias comer doces porque o médico não quer.
- Bufa.
- MÃE, O PAI CHAMOU-ME UM NOME FEIO QUE EU NÃO SEI O QUE QUER DIZER.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Encontro com Deus.....

E Deus olhou para o TAC e disse:
- TRÊS HÉRNIAS DISCAIS? COMO CONSEGUES FAZER ESTAS COISAS?
E o homem olhou envergonhado para Deus e só conseguiu fazer um sorriso parvo.
E a pequena bufa de Deus disse:
- TRÊS???? ELE A MIM TINHA-ME DITO QUE ERAM SÓ DUAS.
E o homem quis desaparecer. E Deus disse:
- Se tu não tens cuidado contigo, a tua qualidade de vida vai ser gravemente afectada daqui a uns anos.
E Deus começou a falar sobre posturas correctas, mostrou gráficos, falou de operações e de como as mesmas não resolvem em definitivo as hérnias e disse ao homem para ter cuidado. E a pequena bufa de Deus disse:
- Tudo isso tenho-lhe eu dito, mas ele pouco ou nada me liga. Veja as análises ao sangue.
E Deus olhou para as análises do sangue do homem e disse:
- Mas…..mas….tu tens feito o que eu te disse?
E a pequena bufa de Deus disse:
- Ele depois de cá vir e durante umas semanas faz, mas depois volta ao mesmo.
E Deus, do alto do seu cadeirão, olha para o pequeno homem e disse:
- Tudo o que tu fizeres agora se vai reflectir no teu futuro. E depois não me podes pedir para voltar atrás no tempo, porque isso eu não faço.
E Deus falou do colesterol e do pâncreas e da possibilidade de diabetes. E depois Deus quis pesar o homem. E o homem timidamente disse:
- Tenho tentado controlar o peso, pelo que deve estar o mesmo desde a última vez.
E Deus pesou o homem e disse:
- 89 kg.
E o homem disse:
- Pois, mas estou com a roupa.
E Deus disse:
- Ok ok, ficamos pelos 88,5 kg. O último registo que tenho aqui marca 87 kg e foi em Dezembro, ou seja, tinhas ainda muito mais roupa.
E a pequena bufa de Deus disse:
- Num dia da semana passada, chegou a casa e, enquanto eu e a nossa filha fomos à piscina, ele comeu dois pacotes inteiros de M&Ms.
E Deus olhou para o homem e nada disse. E o homem baixou a cabeça.
E Deus voltou a falar de qualidade de vida, da importância da natação para a hérnia e para o colesterol, de comida saudável, e enquanto Deus falava a sua pequena bufa acenava em concordância, dizendo regularmente: “Estou farta de lhe dizer isso.” E o homem sentiu‑se mal e disse a Deus que se ia modificar, que iria passar a ser um homem bom, que ia deixar o sedentarismo e passar a ter uma boa alimentação. E Deus escreveu num papel o que o pequeno homem devia fazer e tomar e mandou-o embora, marcando encontro para dali a 3 meses. E enquanto o pequeno homem pagava os 45 € à secretária de Deus a pequena bufa não se calava:
- Ouviste bem o que ele disse? Quero ver quanto tempo agora vais fazer o que ele te pediu. Tu não tens juízo e depois, qualquer dia ficamos sem ti.
E o pequeno homem ficou triste e disse:
- Vamos comer ao vegetariano?
E a pequena bufa calou-se, deu um beijo ao pequeno homem e saiu de mão dada com ele.

segunda-feira, setembro 12, 2005

O ser (parte 2).....

Agora ali estavam, prestes a jantar. O ser estava a começar a dar sinais de fraqueza, em breve iria libertar aquele pobre corpo. Mas antes.....antes havia ainda o jantar.....o jantar.... Massa de cuscuz, misturada com atum, fiambre, cogumelos e courgettes…. A sua última tortura.
Quando o jantar terminou, o seu olhar voltou ao normal. O ser tinha partido. O seu corpo pertencia-lhe novamente. Nada do que se tinha passado, durante aquele terrível dia, estava na sua memória. O sorriso que a ilumina, voltou aos seus belos lábios.
- Então? Os meus amores comeram bem? – perguntou, enquanto ajudava a levantar a mesa. As luzes voltaram a ter o seu brilho normal, a névoa, que durante todo o dia tinha invadido a casa, dissipou-se completamente.
- Filha, vens comigo beber um chá? Deixamos o paizinho sossegado para ver se descansa um pouco as costas e se as hérnias lhe dão um pouco de paz.
Passado pouco tempo saíram de casa. O silêncio instalou-se. Suspiros de alívio começaram a sair mecanicamente de dentro de si…….tinha terminado. Olhou à sua volta. A ordem estava novamente instalada. Percorreu todas as divisões. Estavam diferentes. Móveis tinham passado de um local para outro, mesas tinham em cima novos e diferentes objectos, molduras de fotografias estavam agora espalhadas por ordem cronológica. Parecia uma nova casa. Reteve-se algum tempo no quarto de brincar da filha. Estremeceu quando se recordou na tortura que, ainda há algumas horas, ela ali tinha sofrido:
“ Os telemóveis de brincar são aqui. As barbies são para ser arrumadas aqui. Não quero ver mais peças pequenas perdidas atrás de almofadas. Os jogos estão ordenados por idade, E ASSIM QUERO QUE FIQUEM. Todos estes brinquedos que só aqui estão a ocupar espaço vão ser dados. E NÃO QUERO CHORADEIRA.”
Também o quarto de hóspedes lhe trouxe amargas recordações. Olhou para o resultado da sua tortura ao mesmo tempo que massajava as costas, tentando dessa forma, obter algum alívio das dores que resultaram de todo aquele penoso trabalho. A um canto encontravam-se diversos objectos embrulhados em plásticos. Recordou-se do quanto sofreu para desmontar e embrulhar o antigo berço, as dores causadas pelo embrulhar do suporte de madeira antigamente utilizado como muda fraldas, a ginástica que teve que fazer para embrulhar o cavalo de madeira e uma outra série de objectos que o ser considerou como pertencentes ao sotão. Lágrimas voltaram aos seus olhos. Limpou-as ao mesmo tempo que afastava esses dolorosos pensamentos. Já tinha acabado, pensou, enquanto um suspiro profundo e incontrolável o libertou.
Foi para o quarto e deitou-se. Quando elas chegaram estava a ler. Ouviu-as a rir. Sorriu também. Já estava tudo esquecido....até ao próximo ano....afastou rapidamente este último pensamento e ficou a ouvi-las. Foi dar um beijo à filha e veio com a sua amada para a cama. Falaram, leram e tudo estava, finalmente, normal. Deu um último suspiro de alívio. Quando estava a apagar a luz, ela disse:
- Amanhã tens que levar tudo o que está embrulhado no quarto de hóspedes para o sotão. E amanhã é a vez de IR ARRUMAR A GARAGEM. HAHAHAHAHAHA.
- NÃO….. A GARAGEM NÃO…..A GARAGEM É MINHA…. MINHA……. NÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOO….
Acordou em suor. Olhou em volta e viu a claridade de um novo dia. Tinha sido um sonho. Nada mais do que um sonho. Deixou-se cair para trás sorrindo....um terrível sonho....apenas isso. Ela entrou no quarto vinda da casa de banho. Estava nua e a claridade batia-lhe por trás. Uma visão divinal. Ele esperou pelo beijo que sabia que ela lhe vinha dar. Apertou-a fortemente nos seus braços. Precisava de esquecer aquele terrível pesadelo.
- Então amor, o que se passa? – perguntou-lhe ela.
- Nada. Só quero estar um pouco assim contigo. Nada mais.
- Está bem. – disse-lhe ela, aninhando-se nele. – Sabes......Estou a pensar em fazer as minhas arrumações anuais hoje. O que dizes? HAHAHAHAHAHAHAHA.

domingo, setembro 11, 2005

O ser (parte 1)......

O dia tinha sido longo, mas ainda não tinha terminado, disso o recordavam as pequenas gotas de suor que sentia a sair dos seus poros. Olhou para o que era o jantar e veio-lhe à memória aquele terrível dia:
Mais uma vez os seus esforços tinham sido em vão. Mas a esperança.......A esperança que este ano é que era. Que este ano seria possível. Este ano iria conseguir adiar por algumas semanas, por um mês....E depois....se a chuva e o frio entretanto chegassem....quem sabe? Talvez conseguisse. Talvez a tenebrosa transformação não ocorresse.....talvez. Mas no fundo.....no fundo sabia. Sabia que apenas estava a adiar o inevitável.
- É HOJE. – disse-lhe ela, mal acordou.
- É hoje, o quê? – perguntou-lhe ele, estremecendo quando viu o seu olhar..... - Já está. – pensou – A transformação está feita.
Sentiu o medo a apoderar-se lentamente do seu corpo. Sentiu as forças a abandoná-lo, obrigando-o a tombar na cama. Lágrimas de raiva e frustração eclodiram toldando-lhe o olhar. Pensamentos negros invadiram-no. Ela nada notou, o ser já tinha tomado o controlo do corpo que ele tanto amava. Já se estava a dirigir para fora do quarto, repetindo a tenebrosa frase: É HOJE.
Pouco depois começou-se a ouvir por toda a casa um horrível barulho: Móveis a serem arrastados; objectos a caírem com estrondo no chão; sacos de plástico e papéis a serem mexidos.....O caos tinha começado.
Não podia continuar deitado. Tinha que reagir. Afinal não estava só....A filha.....a pobre filha. Tinha que a proteger. Ordenou ao seu corpo que se levantasse. Ouviu pequenos passos de corrida a virem na sua direcção e enxugou as lágrimas, uma figura frágil e assustada entrou no seu quarto. Tentou tranquilizá-la com um sorriso. Tinha que ser forte por ela.
- O que é que a mãe está a fazer? – perguntou-lhe com a voz assustada.
- Não é nada de especial filha, não te preocupes. A mãe hoje vai estar um pouco diferente dos outros dias, nada mais......Não te preocupes. O pai está aqui. – respondeu-lhe enquanto a embalava nos seus braços.
O barulho não parava, passava de divisão para divisão. Novos sons foram surgindo: Fortes suspiros; palavras terríveis ditas por quem normalmente só diz gaita quando corta totalmente um dedo; nomes horríveis dirigidos às duas pobres criaturas, que procuravam conforto um no outro e que estremeciam sempre que ouviam aquela voz cavernosa, do ser que agora habitava o corpo da esposa e mãe.
Todas as saídas da casa pareciam bloqueadas. Mesas....cadeiras....móveis....brinquedos. Tudo se encontrava espalhado pela casa. O caos estava instalado. Mas....uma pequena janela estava desbloqueada. Através dela conseguiram passar para o jardim. Aí ficaram grande parte do dia juntos, num pequeno canto do mesmo. Ainda pensaram em sair para a rua, mas.....o medo tinha-os paralisado.
O dia passou demasiado devagar, quando os raios solares começaram a perder a força, arriscaram....resolveram entrar. O caos estava a dar lugar a uma nova e estranha ordem, mas ainda não tinha terminado. Deram de caras com o ser.
- Preciso de vocês. – disse com a sua voz cavernosa.
Nada podiam fazer. O ser agarrou a mão da filha arrastando-a para a divisão conhecida como o quarto de brincar. Ele ali ficou, impotente perante aquela terrível força. – A TORTURA... – pensou – ESTÁ NA HORA DA TORTURA....AAAAAHHHHH.
- E tu deixa de ficar aí especado a olhar para nós e vai para o quarto de hóspedes. Tenho lá uma surpresa para ti......HAHAHAHAHAHA – disse-lhe o ser, rindo-se maquiavelicamente, antes de dobrar a esquina do quarto.

(continua.....)

sexta-feira, setembro 09, 2005

Curtas da vida de casado....

- Pai, o que é isso?
- São as fotografias que tiraram de dentro de mim.
- És assim por dentro?
- Sim.
- És muito feio.
- Que piada tão gira. Deve ter sido a tua mãe que te a ensinou, não?
- Como é que te tiraram essas fotografias?
- Abriram um buraco na pele e puseram uma máquina fotográfica lá dentro, depois ela tirou estas fotografias todas.
- Achas que eu ainda sou um bebe? Achas?
- Então diz lá como é que foi, já que és tão esperta.
- Puseram-te numa cama e depois viraram-te do avesso e tiraram as fotografias.
- Temos que ir fazer um TAC a essa cabeça. Começo a estar preocupado contigo. Estás com um humor muito parecido com o da mãe e isso assusta-me.
- Deixa a moça em paz e lê o relatório. – diz a minha mulher.
- Já li. Diz que tenho duas hérnias discais.
- Duas hérnias?
- Vês? Estou à espera das tuas desculpas.
- Desculpas? Do quê?
- De me estares constantemente a chamar maricas por julgares que eu só me estava a armar para não fazer nada cá em casa.
- Bom, sobre isso continuo a ter a mesma opinião, a não ser que me expliques porque razão as dores só aumentam quando chegas a casa e assim que vamos para a cama, passam.
- Tu que acreditas tanto em sinais, não consegues ver que, em relação à primeira situação, é uma forma de o teu Deus te dizer que andas a abusar do teu homem. Quanto à segunda, só a expectativa do prazer é suficiente para libertar químicos que funcionam como analgésicos naturais.
- Bom, acabaste de me dar um sinal claro de como resolver o teu problema. A partir deste momento vais viver sempre de expectativas de prazer. - termina ela dando-me um beijo sensual o qual, sempre que eu me queixava de dores, era repetido.

Lição a reter: Não voltar a juntar as palavras "expectativa" e "prazer" na mesma frase.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Dores da idade....

Com a velhice começam a surgir os problemas de saúde. Chegamos à conclusão que afinal, não é por comer vegetais esquisitos, todas as refeições, que ficamos imunes a problemas de saúde (não sendo, no entanto, esta justificação aceite pela cara metade como desculpa para comprar pizza – mesmo sendo vegetariana). Que é da falta de exercício, que é da falta de cuidado que os homens têm com eles próprios, que é das más posturas quando ponho a loiça na máquina de lavar, diz a minha mulher. Que é dos doces que roubo da caixa que está na sala e que não são para eu comer, “escreve” a nossa filha no quadro do não gostei.
Das más posturas quando ponho a loiça na máquina de lavar? E as más posturas quando tenho que tirar a roupa da máquina e estendê-la? E as más posturas quando tenho que pôr e tirar a mesa? E as más posturas quando sou o último a levantar e (como castigo) tenho que ser eu a fazer a cama, a qual, por razões que me escapam, nunca fica bem feita (aparentemente não basta apanhar as almofadas maricas do chão e pô-las em cima da cama, parece que para além disso temos que puxar uns lençóis e pôr os pijamas sei lá aonde e sei lá mais o quê).
Como é fácil de calcular, tudo isto levou a uma discussão sobre o que são posturas correctas na elaboração deste tipo de tarefas, tendo eu exigido, como é do meu direito, uma explicação prática das mesmas, a qual nunca me foi dada com a desculpa esfarrapada de que eu apenas me queria aproveitar da situação, o que não corresponde à verdade (tirando o caso da cama, onde aí sim me tentei aproveitar da situação, mas entretanto chegou a nossa filha).
Bom, mas afinal o que se passa? Eis a pergunta que neste momento deve de estar a afligir quem está a ler isto. Será que o casado resolveu candidatar-se à presidência da república e vem com esta conversa de ser velho para justificar a mesma? Pensam vocês. Nada disso, que posso estar velho, mas ainda não estou às portas da morte. O que se passa é que, aparentemente, tenho uma dor ciática. A qual me atinge uma das pernas impedindo-me de andar normalmente e fazendo com que as pessoas que encontro me perguntem se fui outra vez fazer cicloturismo. Digo aparentemente porque ainda não tenho a certeza.
- Conheço um endireita que te resolve isso.- disse-me o meu sogro - Toma lá o contacto dele e vai lá que ele arranja-te isso.
Bom, não custa nada experimentar, pensei eu e lá fui. Realmente o homem fez-me maravilhas. A dor que tinha foi rapidamente esquecida. Porquê? Porque o homem teve a gentileza de me oferecer novas e mais fortes dores, através de uma luxação no ombro e de um incrível mau jeito no pescoço. A minha forma de andar sofreu alterações drásticas, assim como o meu humor, o que fez com que amigos meus me viessem perguntar se a minha sogra tinha descoberto o meu blog.
Eu devia de ter desconfiado, afinal o meu sogro é aquele que uma vez disse à minha mulher que a melhor forma de curar aftas é pôr-lhes sal em cima, ou que, quando nos queimamos, devemos colocar sumo de tomate imediatamente em cima da zona queimada. Mas até então, julguei que isso fosse uma forma engraçada de se aproveitar do seu poder de pai, mas agora vejo que é algo de completamente diferente, trata-se antes de uma forma, muito distorcida, de se rir com as desgraças dos outros, tentando, dessa forma, diminuir a frustração por ter que acordar todos os dias e ver que a minha sogra ainda vive com ele.