quarta-feira, julho 07, 2004

O parto....

- Amor, acorda- disse-me ela- estou toda molhada.
Bom, estava cheio de sono, mas as oportunidades são para aproveitar por isso comecei a fazer-lhe carícias. Deu um berro:
- ESTÚPIDO, não quero sexo. Acho que me rebentaram as águas.
Ok, são 4 da manhã e estava a chegar a hora da maior mudança das nossas vidas e nós ainda não o sabíamos. Fomos para o hospital e meteram-nos na sala de partos. No início ainda deu para falarmos, mas a partir de um certo tempo ficou esquizofrénica, lembrou me o clássico da literatura “O Médico e o Monstro”. Quando não tinha contracções, podia falar com ela fazer-lhe carinhos e dar-lhe beijos, quando vinham as contracções, o monstro aparecia: “NÃO ME TOQUES.” Com o tempo, o intervalo entre as contracções ficou mais curto, dando largas ao monstro dentro dela. “A CULPA DISTO É TUA. NUNCA MAIS”. Nunca mais? Nunca mais o quê? Seria uma ameaça sobre a nossa vida sexual? Pensei eu em pânico. Perguntei-lhe o que ela queria dizer com aquilo.
-Com o quê, amor? - respondeu ela, já sem as dores da contracção. - Amo-te muito. - Continuou ela. Fiquei descansado.
“ESTÚPIDO, TU É QUE DEVIAS DE ESTAR AQUI. VAIS VER O QUE TE ESPERA.” Regressou o monstro. Bom e assim foi durante umas horas. Até que finalmente ficou tudo pronto para o parto. Nunca pensei que ela tivesse tanta imaginação para me chamar nomes. Pensei que depois do parto nunca mais lhe poderia tocar. Finalmente, num último esforço (acompanhado de mais um impropério a mim dirigido) veio ao mundo a minha filha. Depois de a mostrarem à mãe, levaram-na e eu fui atrás, olhei para ela tão calma e aí apercebi-me que tinha um ser humano indefeso para cuidar.
Regressei para junto da mãe dela e estava o médico com uma agulha e linhas a coser-lhe a vagina, perguntei o que se passava e ele disse-me que teve que cortar um pouco e que agora estava a dar uns pontos. Aproveitei para perguntar passado quanto tempo é que podíamos voltar a ter relações. Ele disse-me que, pelo que tinha ouvido durante o parto, não era com os danos físicos que eu me teria que preocupar. Fiquei feliz em saber que pelo menos uma pessoa se tinha divertido com o parto. Voltei a ir ver a minha filha e dei-lhe o meu primeiro beijo. Quando regressei, a minha mulher estava a dormir exausta, dei-lhe um beijo e saí. Estava orgulhoso das duas e com muito medo das novas responsabilidades.