quarta-feira, março 23, 2005

A minha mulher, a minha barriga e eu.....

O facto da minha mulher se fartar de falar da minha barriga, faz-me pensar um pouco sobre isso. Gosta de comentar a mesma quando eu passo por ela mostrando o meu belo tronco nu. “Olha para esta barriguinha linda. Se eu tivesse tanta celulite como tu tens barriga….” Acabo por não perceber muito bem onde é que ela quer chegar com essa conversa. O que raio é que a minha barriga tem a ver com a sua celulite? Se ela quisesse fazer comparações que eu perceba, que compare a minha barriga com o seu peito. Aí sim fazia sentido: “Se eu tivesse tanto peito como tu tens barriga….” Seguido por um suspiro. Agora a celulite? Qual é a comparação aqui? Será inveja? É verdade que tenho um certo orgulho na minha linda barriga. Quando era puto tinha um trauma tramado por ser só pele e osso. Ia levando a minha família à falência, na minha adolescência, devido ao forte aumento nas compras de comida. Fartava-me de comer, só parava quando sentia a barriga bem cheia, mas não adiantava nada. A minha magreza fazia com que tivesse vergonha em ir à praia ou a piscinas públicas. Via as moças a olharem para mim e não sabia se era pela minha magreza ou se era de admiração por verem que conseguia levar sozinho, a toalha de banho, sem cair. Fui para a universidade e assim continuei, comia desalmadamente e de encher a pele, nada. Casei e aí algo finalmente mudou. Comecei a comer menos, por razões que não vou voltar a referir, porque a censura não quer que eu fale mais nos seus cozinhados e diz que agora já cozinha muito melhor e sobre isso eu não vou dizer nada porque estamos em treinos para dar um mano à nossa filha.
Continuando. Comecei a comer menos, mas aí comecei também a ganhar a desejada gordura. Com o tempo essa gordura foi-se acumulando naquilo que é agora o meu orgulho. A minha barriga. E que linda barriga é a minha. Quantas barrigas têm o privilégio de receber elogios do sexo oposto? “Tomara eu que o meu marido (namorado; amante; etc.) tivesse uma barriguinha linda como a do teu marido.” As vezes que eu ouço isto, seguido imediatamente por uma festa na mesma.
Demorou muito tempo a atingir este nível de perfeição. Por exemplo, em relação à flacidez, quantas barrigas existem por aí com uma flacidez digna de qualquer tasca? Eu, para a minha barriga tenho um elevado grau de exigência, tem que ter uma forte componente estética que, com a minha habitual modéstia, faz de mim um artista e não um vulgar barrigudo: A sua linda e perfeita curvatura. A forma como ela faz sobressair na perfeição e simetricamente a minha cintura. A forma como o umbigo sobressai esteticamente de todo o conjunto. A próprio orientação dos pêlos, etc. Isto, meus amigos, é arte bem superior a alguma arte moderna que por aí vejo. Posso até dizer que um molde da minha linda barriga deveria ter um lugar de destaque em qualquer museu de arte contemporânea, pois é exactamente disso que se trata: arte contemporânea.