Dia dos namorados......
Que é mais uma americanice. Que só serve para apelar ao consumismo. Que nunca iria ligar a isso. Que eu nunca esperasse qualquer coisa nesse dia. Que o dia dos namorados é quando nos apetecer. Eis algumas das frases empregues por ela para justificar o seu desprezo pelo dia dos namorados. Desprezo esse partilhado por mim, pois só me faltava era ter mais um dia para andar sem saber o que lhe oferecer. Mas estava-me a esquecer como as mulheres são seres que não sabem o que é a coerência. Assim, este ano as coisas mudaram: “Vou mais cedo para casa para poder trabalhar sossegada.” Disse-me ela, enquanto sorria. Fiquei a pensar sobre o motivo do sorriso, mas cheguei à conclusão que deveria de ser, mais uma vez, devido à minha escolha de roupa. Assim que cheguei a casa, encontro a nossa filha já de banho tomado e uma amiga nossa, já instalada: “Então, resolveste vir-nos ajudar a acabar com os restos do almoço de ontem?” perguntei-lhe eu. “Deixa-te de parvoíces e toca a despachar. Vai mudar de roupa porque vamos sair.” Disse-me a minha mulher toda atarefada. “Vamos sair aonde? Alguém faz anos? Porra, porque é que tu não me avisas destas coisas? Então e a mocita vai vestida de pijama?” perguntei eu, um pouco perdido com tudo aquilo. Estas perguntas provocaram emoções diferentes lá em casa, à nossa amiga fizeram rir enquanto abanava a cabeça, à minha mulher fizeram também abanar a cabeça, mas como se eu fosse um caso perdido: “És mesmo parvo. Ainda não percebeste que vamos sair só os dois? Toca a despachar porque tenho uma surpresa para ti e quero lá chegar antes do anoitecer. Veste o que está em cima da cama.” Bom, lá troquei as meias rotas por um par que estava em cima da cama (uma vez que não sabia para onde ia pensei que o melhor era não levar nada vestido que tivesse buracos) e desci, tendo o cuidado de pedir à mulher a tardes, para não deixar a minha roupa em cima da cama. Pois, para além das meias, que obviamente a minha mulher lá deixou, estavam lá também umas calças, uma camisola e um casaco. Afinal, parece que isso era para eu vestir, mas como já estávamos atrasados para sei lá o quê, ela não se importou de ir comigo vestido à “…sei lá o quê.” Reparem como me visto sempre de acordo com a ocasião.
Bom, lá fomos então a caminho do desconhecido, aparentemente estávamos atrasados porque ela ia a acelerar mais que o normal. Quando perguntei qual a pressa, começou a refilar comigo por ter chegado atrasado e não ter percebido nada. Pelo que resolvi ficar calado, mas só depois de lhe perguntar se a palavra orgia tinha alguma coisa a ver com a surpresa.
Depois de muito andarmos, fomos ter a um hotel famoso por estes lados, perdido no meio do Alentejo. Assim que lá chegamos, olho para o relógio e vejo que ainda é muito cedo para o jantar, pelo que ela deve ter algo programado para o antes….penso, enquanto salivo abundantemente. Vejo-a a tirar uma mochila da bagageira do carro e começo a ter arrepios. Vamos para a recepção e os meus arrepios aumentam quando a vejo a pagar, e principalmente, quando ela pergunta a que horas é que o ginásio fecha. GINÀSIO?????GINÁSIO?????MAS QUE MERDA É ESTA????GINÁSIO?????. Começo-me a sentir mal e só recupero quando a recepcionista diz que o ginásio já está fechado, dado o adiantar da hora. Suspiro de alívio enquanto ela me manda o seu olhar número 3, ou seja: “Tu és sempre o mesmo, eu preocupada com o teu bem estar, cheia de trabalho e mesmo assim consegui marcar isto para te fazer uma surpresa e agora, por tua culpa, já não podemos ir para o ginásio. A tua sorte é que és um gajo lindo e inteligente e cheio de amor por mim, senão…” É verdade, os seus olhos conseguem falar muito. Por vezes falam ainda mais do que a boca, e o problema é que são mais difíceis de mandar calar.
Continuando. A piscina ainda estava aberta, pelo que lá fomos. Embora ela tenha trazido os meus calções de banho que realçam excessivamente os efeitos de uma vida muito activa intelectualmente, ninguém reparou porque a piscina estava vazia. Como achei a água da piscina demasiado fria, para o meu corpo sensível, preferi o jacuzzi, no qual íamos adormecendo com o relaxamento. Felizmente o meu relógio interno acordou-nos, informando-me que eram horas de comer. Lá fomos para o restaurante, mas não sem antes passarmos pela sauna, à qual não achei muita piada porque me fez lembrar as noites de verão na nossa casa. O restaurante, por seu lado, fez-me lembrar o restaurante onde comemoramos o nosso último aniversário de casamento. Cheio de mariquices e com a sensação que algo em mim não estava adequado à situação. A minha mulher disse-me que era a minha roupa, mas devia de ser outra coisa, pois tive o cuidado de tapar com a camisa, um pequeno buraco que as calças de ganga tinham ao nível das virilhas.
Lá veio a comida, cheia de mariquices. Começou por vir um prato de morangos acompanhado por dois copos com espumante, os quais foram direitinhos para ela, uma vez que, como estou farto de dizer, detesto álcool. Já estava a prever algo de parecido ao nosso jantar de aniversário mas, felizmente, não existiam karaokes num raio de 200 Km. Assim se passaram uns longos minutos agradáveis, com um único defeito, nestes restaurantes, o que poupam na comida acrescentam ao preço. No caminho de regresso demorámos mais uns bons minutos do que aquilo que seria normal, porque não é fácil concentra-me na condução enquanto, ao lado, alguém assassina a música da Edith Piaf (o facto de quando ela está mais alegre cantar sempre Edith Piaf, é algo que me fascina e ao mesmo tempo me atormenta, não posso ouvir alguém a dizer NON…. sem sentir um forte arrepio)
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