terça-feira, março 21, 2006

Stand-up Comedy.....

Ontem dei o meu primeiro espectáculo de Stand-Up Comedy. Passei o fim de semana a preparar-me para isso: Vi, várias vezes, o documentário “Jerry Seinfeld Comediante”; Pesquisei nos meus arquivos mentais, e não só, por material relevante; Escrevi várias piadas; Treinei em frente ao espelho as expressões mais adequadas aos diferentes momentos, de cada uma das composições que preparei; Filmei e revi as minhas próprias encenações.
Nada podia falhar. Era a minha primeira vez, não me iria acontecer o mesmo que na minha primeira relação sex…ok, isso não interessa.
Após longas horas de ensaio, senti que, finalmente, estava seguro da minha actuação. Senti que iria ser um sucesso. Senti que dali podia dar o salto para algo mais ambicioso.
Lá fomos. Estava bastante nervoso e senti que iria ter à minha frente um público difícil. Já me tinham avisado que não iria ser fácil, mas a falta de respeito que o público estava a ter pelos artistas que me antecederam assustou-me. Tratava-se de pessoal exigente, tinha ido ali propositadamente para assistir ao espectáculo e era isso que queria: Espectáculo. Achei que, talvez, não estivesse à altura do acontecimento, talvez ainda não estivesse preparado. Talvez o melhor fosse ir para casa, disse para a minha mulher. Mas eis que tinha chegado a minha vez. Até ali, nenhum dos meus colegas de infortúnio tinha conseguido aquecer a plateia. As dúvidas continuaram a invadir a minha mente, o medo (o pânico será mais adequado) apoderou-se de mim, pensei: como é que um bicho do mato como eu, podia alguma vez, ter tido a arrogância de me julgar capaz de fazer....aquilo.
Repeti para a minha mulher que ia desistir, que o melhor era ir embora, que afinal não tinha jeito para aquilo. Ela falou do desgosto que iria dar à nossa filha, da confiança com que eu ensaiei durante todo o fim de semana, das gargalhadas que consegui tirar à família e depois…..depois empurrou-me no exacto momento que me anunciaram:
- E agora uma salva de palmas para o grande P.P.
Foi logo uma entrada triunfante, pois o empurrão, conjugado com os enormes sapatos que a personagem que encarnava (Pai Palhaço) usava, fizeram com que caísse logo à entrada do palco. Nada disso estava previsto, mas as gargalhadas que daí resultaram, foram suficientes para me dar a necessária confiança, que fez com que toda a minha actuação tivesse sido um sucesso, mesmo que alguns dos restantes pais presentes (invejosos) tenham tentado sabotar o meu show, pois levaram os seus recem-nascidos, os quais passaram, praticamente, todo o espectáculo aos berros, tornando difícil a audição de certas anedotas. No entanto, bastava eu andar um pouco em cima do palco, para voltar a ter todos na palma da minha mão (o facto de só ter experimentado os sapatos na altura de entrar em palco, deu-me uma vantagem que não esperava, e algumas nódoas negras).
Bom, digamos que como resultado, a noite dos pais, organizada pela Escola cá do sítio, até não me correu mal. Tirando talvez, o facto de terem gostado tanto, que querem que eu repita o meu número na festa da Páscoa que estão a programar fazer. Inclusive com a parte das quedas e com a parte final, na qual fujo de uma série de putos que me tentam puxar o nariz vermelho, pois passaram a achar piada às minhas caretas de dor, provocadas pelo choque que o nariz vermelho provoca no meu pobre nariz, também já vermelho.
Mas todas as dores e mazelas, resultantes de todo o esforço físico e psicológico que resultaram de ter feito, por pedido expresso da nossa filha, de Pai Palhaço na noite dos pais da sua Escola, foram esquecidas quando, na hora de lhe dar o beijo de boa noite, ela me disse, com um brilho de orgulho nos olhos:
- Pai, és o maior Palhaço do Mundo.