A Estadia 1 (porque ainda vou estar por cá mais uns tempos)…....
Livre do calor, pensava eu, nos Alpes o tempo é fresco, pensava eu, posso dormir as sestas sem ter o calor a apoquentar-me, pensava eu. Porra, até a minha cunhada diz que não é normal estarem 37º C aqui. Como se isso não fosse o suficiente para me alegrar os dias, ainda tenho que aturar duas sobrinhas, uma na fase da pré-adolescência e outra nos picos da mesma, ou seja com todas as hormonas descontroladas. Faz-me lembrar a gravidez da minha mulher mas em versão “falta de chapadas é o que ela tem”. Está bem que já passei por essa fase e foi das mais importantes da minha vida, um gajo nunca sabia se estava contente ou se estava na depressão tão depressa as coisas mudavam, bastava uma moça não olhar para mim como eu queria, que era logo uma desgraça: “Será que se nota muito a erecção que ela me provoca?” pensava eu 99% das vezes (o restante 1% era quando eu tinha a certeza) “Tenho que deixar de usar boxers e calças largas.” Concluía.
Bom, mas voltando à minha sobrinha, eu não me lembro de gritar metade das asneiras que ela grita com os pais. Porra, eu que pensava que já conhecia suficientemente o francês, afinal conclui que existe ainda muito vocabulário subterrâneo que ninguém me queria ensinar. Mas agora já estou pronto para qualquer discussão com quem quer que seja, desde que seja em francês. E os gritos, como é possível gritar assim tanto, a minha teoria é esta: como a língua francesa é um bocado maricas, quando eles se irritam, se falarem com um tom normal dá vontade de rir, assim, toca a gritar para que os possam levar a sério. Imaginem alguém a falar com vocês com um ar muito chateado, mas sem gritar e a dizer “Je te coupe ta gole si tu ne ferme pas ta boche.” Se for uma mulher boazona, a vontade que dá é de um gajo se despir todo e dizer “Fais touts qui ti donne dans la tete, je suis a ton disposicion.” Agora, se ela dizer o mesmo, mas aos berros, um gajo despe-se ainda mais depressa, pois tem a certeza que vai ser violado.
Tenho que deixar de divagar tanto. Voltando à minha sobrinha, a moça só fala aos berros com todos os da família, só quando o namorado chega é que voltamos a conhecer a sua voz normal, mas só para ele, evidentemente, porque para os outros continuam os berros. “PASSEM-ME A ÁGUA, CABRÕES DE MERDA E FILHOS DE UMA GRANDE PUTA QUE ME OBRIGAM A CHEGAR A CASA À MEIA-NOITE.” (resolvi traduzir, porque nem todos tiveram a educação refinada com a qual fui privilegiado, nés pá?) e logo a seguir: “Meu amor e querido da minha vida, onde me vais levar a passear hoje. SE ESTES GRANDES PUTANHEIROS ME DEIXAREM SAIR.”
Conclusão: Passei a apreciar ainda mais os momentos com a minha filha, embora ande a tentar aprender a gritar com os exemplos que por cá se passam, basta uma conversa, um castigo e se for caso disso, uma palmada no rabo, para voltar a descer à nossa realidade.
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