segunda-feira, agosto 23, 2004

Estadia 4.....

Felizmente tenho na aliança o dia em que nos casámos, pelo que este ano apanhei-a de surpresa. “Então amanhã onde queres ir jantar?”- perguntei eu discretamente. “Ó amor, lembraste-te que amanhã fazemos 8 anos de casados”- disse-me ela, quase com lágrimas nos olhos. “Claro que sim.” (ia lhe perguntar se alguma vez me tinha esquecido, mas achei melhor estar calado). Pensei para mim, oito anos? Tanto tempo e ainda temos sexo com frequência? (Bom, com a frequência que ela deixa, claro). Deixámos a nossa filha com a minha cunhada e respectiva família e lá fomos a um restaurante que nos haviam indicado (a segunda escolha, pois a primeira indicação era de um restaurante em que o preço médio por pessoa rondava os 150 euros, respondi à pessoa que era para comemorar 8 anos de casado e não cem). Tive logo um pressentimento que a noite não me ia correr bem quando, assim que entramos, a minha mulher perguntou à senhora se havia algum problema em eu entrar de calções e sandálias. Porra, até parecia que ia com um mendigo, afinal nem levava as sandálias da praia nem calções de banho, mas sim umas sandálias de cabedal e uns calções “normais” de tecido. Mulheres… querem sempre a perfeição, qual é o problema de só ter trazido calções e sandálias para as minhas férias? Continuando. Sentamo-nos a apreciar a cidade que estava no vale “Então que balanço é que fazes destes anos de casamento?”- perguntou ela. “Em termos monetários ou sentimentais?”- repliquei eu. Primeiro pontapé da noite. Veio o menu e olhei para o menu turístico, 34 euros. Pensei que era melhor escolher algo do menu normal que certamente nos ficaria mais barato. Pedimos uma entrada de lagostim e veio um prato com um lagostim e mais uma série de mariquices que ficámos sem saber se eram para comer ou se serviam só para enfeitar. Entretanto, vem também a garrafa de vinho que ela tinha pedido e que era a mais pequena e mais barata que eles tinham na carta de vinhos, só custava 20 euros, UMA GARRAFA DE VINHO DAS PEQUENAS A 20 EUROS PORQUE RAIO É QUE NÃO BEBES SUMO COMO EU. Gritei eu em pensamento, quando ela a pediu. “Que tens amor? Estás a ficar branco.” – disse-me ela na altura. “Nada amor. É impressão tua.”- respondi eu. Segundo pontapé da noite, mas este, embora não tenha causado dores físicas, doeu mais que o primeiro. Porque raio é que ela gosta de vinho. Eu odeio tudo o que tenha álcool (o que durante a minha estadia na Universidade se tornou uma vantagem para os meus colegas, pois assim podiam sair e embebedar-se à vontade sabendo que me tinham a mim para tentar controlar as asneiras que iam fazendo pelo caminho) o que, aparentemente, me torna um ser extraterrestre, pois, por mais que diga às pessoas que odeio bebidas alcoólicas, elas insistem “Mas aposto que nunca provou este meu vinho caseiro. É do melhor que existe.” PORRA, MAS TEM ALCOOL, NÃO TEM? EU NÃO SUPORTO O SABOR DO ALCOOL NEM EM BEBIDAS NEM EM DOCES E MUITO MENOS NA MERDA DAS SALADAS DE FRUTA ONDE TÊM A MANIA DE PÔR UM CÁLICE DE VINHO DO PORTO. DEIXEM A MINHA SALADA DE FRUTA EM PAZ. (peço desculpas pelo desabafo mas esta da salada de frutas mexe muito comigo).
Voltando ao jantar. Quando a garrafa de vinho chegou, não resisti e disse “Por vinte euros espero bem que a bebas toda.” Se soubesse o que me esperava tinha ficado calado. Lá escolhemos o prato principal. Mais uma vez veio com tudo muito enfeitado como uma verdadeira obra de arte, pedimos a sobremesa, comemos e entretanto o vinho ia desaparecendo ao mesmo tempo que minha mulher ia ficando um pouco tocada (quando isso acontece, fala de tudo e mais alguma coisa). Felizmente ninguém percebia o que falávamos (também só lá estavam mais dois casais, quando veio a conta percebi porquê). Quando acabamos pedi a conta e….. as asneiras que eu pensei, 112 EUROS POR PRATOS CHEIOS DE MARIQUICES E ONDE MAL ACABÁMOS A SOBREMESA JÁ O PRATO PRINCIPAL SAIU DO ESTÔMAGO? Ela pagou (pois a minha carteira desapareceu de vez) e depois fomos dar uma volta pela cidade, a qual às 10 horas da noite estava vazia, pelo que, por razões de segurança, resolvemos voltar para o nosso alojamento. Perto do mesmo havia um bar com karaoke (os franceses adoram isso) que parecia animado, resolvemos entrar (o resolvemos é só para eu não ficar mal no quadro, porque ela obrigou-me a entrar) e aí, aí pensei em nunca mais comemorar os nossos futuros anos de casamento. Porquê? Porque ela mal viu o microfone livre agarrou-se a ele e toca de cantar Edith Piaf. Nunca me senti tão mal na minha vida. Bem que tentei que ela parasse (eu e mais o gerente do bar) mas quanto mais tentávamos mais ela insistia em gritar (sim, porque aquilo não era cantar). Felizmente o gerente lembrou-se de uma súbita falha de energia e embora os seus gritos continuassem a se ouvir mesmo com o micro desligado, ela achou que a acústica da sala era má para a qualidade da sua voz. Mas, antes de sair, exigiu que eu subisse ao pequeno palco, onde contou quase a história da nossa vida (incluindo alguns detalhes que eu pessoalmente não gostaria de dar a conhecer a ninguém) e gabou as minhas qualidades e salientou, no seu francês perfeito, os meus horríveis defeitos. Penso que muitos dos que assistiam julgavam que se tratava de um espectáculo de Stand up comedy, pois eram só aplausos e gargalhadas e eu com o meu sorriso amarelo a tentar despachar aquilo. Finalmente consegui tira-la de lá (sozinho, porque entretanto o gerente começou também a achar piada aquilo) e após eu recolher as moedas que entretanto choveram para o palco (pelo menos serviu para minorar o prejuízo) lá saímos e fomos para casa, onde ela rapidamente adormeceu e eu fiquei a pensar (após contar as moedas) se não podíamos fazer daquilo um negócio.