segunda-feira, novembro 29, 2004

Deus, a minha mulher e eu......

Hoje quando me dirigi para a casa de banho, para a primeira mija do dia, já lá estava a minha mulher que me surpreendeu quando me disse, assim que me viu: “Esta noite o gajo lá de cima falou comigo.” enquanto apontava para o tecto. Ora, um gajo ainda não sabe se já acordou, ou se está num daqueles sonhos em que está à rasca para mijar e passa o sonho a caminho da casa de banho, pelo que não sei qual a razão da sua implicância quando eu disse, ensonado, a primeira coisa que me ocorreu: “Temos um gajo a viver no sótão?” É óbvio que começou logo a chamar-me nomes, o que me ajudou a perceber que afinal já não estava a dormir, estava de volta à realidade, o que eram boas notícias para a minha massacrada bexiga. Afinal o que raio é que o gajo lá de cima, que felizmente não vive no nosso sótão (porra, já me chega ter lá, segundo a nossa filha, um dragão e uma bruxa má sem me pagarem renda) lhe disse? Perguntam os leitores. Não faço a mínima ideia. Estava tão aliviado a mijar, que não percebi quando é que ela deixou de me chamar nomes e passou a contar a sua história. Apenas percebi algo sobre uns sinais que ela tinha sentido durante a noite. “Porra, isso fui eu quando acordei a meio da noite e tentei-me aproveitar do seu sono. Querem ver que o gajo lá de cima sou eu?” Pensei. Mas não. Afinal os sinais eram umas coisas quaisquer que ela tinha sonhado e que......sei lá.
Esta relação que ela tem com a religião é um pouco esquisita. Para ela nada acontece por acaso, tudo tem que ter uma razão. É estranhíssimo vê-la quase em transe a tentar adivinhar os sinais escondidos por detrás de situações banais. Deus para mim não existe. Quando era puto provei isso: Estraguei umas pantufas e sabia que ia levar uma tareia por isso, então disse ao suposto todo-poderoso que, se me arranjasse as pantufas teria um devoto, senão, era óbvio que não existia. O óbvio aconteceu e acabei com as nádegas vermelhas. A minha mulher diz que o gajo lá de cima não ia arranjar as minhas pantufas só para que eu acreditasse nele. O quê? Já tem a lista cheia? Já não aceita mais inscrições? Está armado em superior? Grandes desculpas. Se é assim, também posso começar para aí a dizer que sou Deus. Basta anunciar e depois dizer que não faço nada porque não quero limitar a vida de cada um de nós. (hummm….religião….dinheiro….gajas malucas…) Ok, estava a escrever alto e a pensar numa forma de ganhar dinheiro. Bom, mas para mim, se o gajo não consegue arranjar umas simples pantufas como é que consegue, supostamente, fazer um filho sem tirar a virgindade a uma mulher? Grandes histórias. De qualquer maneira, há coisas que não adianta discutir, e a religião é uma delas. Se ela precisa de acreditar em algo para ser feliz e se eu não sou suficiente, pelo menos que esse algo seja alguém que não exista.
Mesmo assim, já tive que suportar algumas coisas por causa da sua religiosidade. Quando ela insistiu para casarmos pela igreja eu, de inicio, disse que não, que isso era tudo uma fantochada, mas depois ela falou-me no dinheiro que íamos fazer e eu aceitei. Quando foi para baptizar a nossa filha, aí fiz finca-pé, porque raio é que não deixamos a moça crescer e decidir o que quer fazer da sua espiritualidade? Mas as pressões da minha mãe, sogra, mulher, cunhada, tias, etc. levaram-me a ter que aceitar essa porra. Agora diz que está arrependida. Agora diz que as religiões só têm provocado guerras. Agora diz que continua a acreditar mas que não quer saber dos rituais. Ou seja, acabaram-se os descansos aos domingos de manhã. Agora, a hora da santa missa é passado a fazer algo que lhe dá na gana, como por exemplo, irmos todos à piscina fazer exercícios que “…alguns de nós bem precisamos.” Diz ela aproveitando logo de seguida para explicar à nossa filha como a barriga das grávidas aumenta, usando-me como modelo.