sexta-feira, novembro 05, 2004

Troca de Tarefas.....

Ontem surpreendeu-me ao jantar quando me perguntou: “O que é que tu dizes de trocarmos as tarefas? Tu fazes a comida e eu trato da mesa e da loiça.” Quando ela faz uma coisa destas fico tipo homem aranha. O meu sinal de alarme toca (acontece o mesmo quando eu estou sossegado e ela me chama por amor). Porque razão é que ela quer agora, de repente e sem pré-aviso, trocar as tarefas? Isto assim é muito estranho. Geralmente qualquer troca de tarefas implica pré-avisos e novas negociações que podem demorar dias. Tudo tem que ficar muito claro e sem margens de dúvidas porque segundo ela, se não for assim, eu aproveito-me de qualquer pequeno detalhe para evitar fazer a minha parte. É incrível como ela me conhece tão bem, por mais que eu tente esconder o meu jogo. Assim, quando ela me disse esta coisa, é óbvio que fiquei desconfiado. “O que é que se passa para pensares nisso agora?” pergunto eu. “Não te estás sempre a queixar da minha comida? Ora aqui está a tua hipótese para mostrares o que vales na cozinha.” Respondeu-me ela. Ok, ela tinha as coisas bem pensadas e deixou-me demasiado tempo calado a pensar numa boa resposta que não encontrei. Assim, como não encontrei argumentos para a contrariar concordei, desconfiado com o que me esperava, mas concordei.
Hoje começaram as minhas novas tarefas e estou bastante satisfeito com a minha prestação, apesar das tentativas do outro lado para boicotar a minha performance (escondeu a frigideira eléctrica e tive que improvisar) para além de me ameaçar com o facto de não comer nada do que eu cozinhe se eu só fizer porcarias que fazem mal. Quando ela disse isso comecei, numa conversa muito aberta, a caracterizar a sua comida mas, infelizmente, a minha filha interrompeu-me ao dizer: “Pai, vou escrever no quadro do não gostei que estás a dizer asneiras muito feias.” Por mais que eu lhe explicasse que não eram asneiras, era apenas eu a tentar explicar à sua mãe ao que é que sabia a sua comida, fui parar na mesma ao quadro do não gostei (felizmente ela não sabe escrever, pelo que nenhum dos palavrões ficou marcado).
Bom, avançando. Fiz uma salada com atum, tomate e feijão-frade acompanhada por maionese também feita por mim. Quando pus a comida na mesa e enquanto estava a pôr o babete à nossa filha, disse-lhe as novas regras, ou seja, que a partir de hoje, sou eu quem faz a comida. A sua reacção trouxe-me as lágrimas aos olhos: “IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.” Caso alguém não tenha lido bem o que eu escrevi, e só por isso, vou repetir a sua reacção: “IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA” O único problema que houve durante o jantar foi a existência do feijão-frade. Mas, antes de começar a comer, disse à nossa filha porque razão os feijões tinham o nome que tinham: Porque as pessoas sempre que os comem gritam FRAAAADEEEE.
Obviamente que isso foi o suficiente para ela comer o feijão- FRAAAADEEEE todo e para a minha mulher amaldiçoar a minha criatividade e ameaçar a noite insinuando uma dor de cabeça. INVEJOSA É O QUE ELA É.