sexta-feira, outubro 22, 2004

A sopa.....

No passado fim de semana resolveu inventar uma sopa. Tive o cuidado de a esconder bem no fundo do frigorifico para que ela se esquecesse da sua existência. No entanto hoje, antes da aula de natação disse-me: “Aquece a sopa que fiz no fim de semana.” Como ela adivinha os meus pensamentos acrescentou “E não vale fingir que te esqueces.” Bom, o que podia eu fazer? Tinha ali a minha chance de me redimir, tinha que a aproveitar, até porque me parece que o sofá começa a ter a minha forma e isso deixa-me frustrado (não por lá dormir, mas pela forma em si, faz-me parecer mais gordo do que aquilo que realmente sou). Assim sendo, lá tirei o raio da sopa do canto escuro do frigorifico. Tinha esperança que ela já estivesse estragada e cheirei. Realmente não cheirava muito bem, mas depois pensei: “Como foi ela que fez a sopa é impossível saber se está estragada ou se é o seu cheiro natural.” Lá pus a sopa a aquecer. Uma concha para a nossa filha, duas para mim e duas para ela. Quando chegaram estava eu a provar a sopa para ver se estava quente, e o que senti ao provar foi semelhante ao que me acontece quando acabo de mijar, um arrepio. Assim que o efeito do arrepio passou pus as cartas na mesa: “Olha, a sopa já está quente. Pus 4 conchas para ti e uma para dividir por mim e pela nossa filha.” E lá começou a confusão: “Eu não quero sopa.”- dizia a nossa filha. “Eu não como quatro conchas de sopa. Vocês também têm que comer a sopa que me deu muito trabalho a fazer.”- disse ela. Tive que pôr ordem na casa, afinal eu é que sou......(porra, ia dizer chefe da família). Mesmo assim, tentei pôr ordem naquela confusão: “Vamos lá a acalmar. Primeiro, aqui nesta família se um sofre todos temos que sofrer, por isso filha, se eu tenho que comer a mer....a porcar....a....... sopa que a mãe fez com tanto amor e carinho TU TAMBÉM COMES DO MESMO E NÃO REFILAS.” Continuei, mas agora dirigi-me para a minha mulher. “E tu, já paguei o que tinha a pagar quanto acabei agora mesmo de provar a sopa.” Disse, após bocejar a boca com sumo para ver se me paravam os arrepios. “Por isso, vou comer a minha meia concha de sopa e aí de ti que me mandes para o sofá. Habitua-te, porque hoje vais ouvir o meu ressonar.”- terminei e olhei. Todas caladas a olhar para mim. “Ok. Toca a sentar e a comer. E lembra-te filha, depois da sopa vem o segundo e esse foi o pai que fez.” Disse eu. “IIIIIAAAAA. E depois posso comer um chupa?”- perguntou ela. “Filha, depois de comeres esta sopa, bem que mereces um chupa. Já agora, quando fores buscar o teu traz um para mim que também mereço.”- respondi.
Resultado do jantar: Comi o raio da sopa toda (a meia concha). A nossa filha só aguentou duas colheres antes de perguntar à mãe do que é que era feita a sopa. Enquanto a mãe enchia o peito para enumerar todos os vegetais que lá tinha colocado, a nossa filha atalhou caminho e assim que apareceu o primeiro vegetal (cenoura) ela disse logo: “Não gosto de cenoura. Não como mais sopa.” Fiquei com a certeza de que, fosse qual fosse o vegetal que a minha mulher tivesse dito em primeiro lugar, a resposta da nossa filha não iria variar muito. Começa a ter saídas muito parecidas com as minhas. Porra, um pai até se sente emocionado por ver que a sua educação está a funcionar apesar da reaccionária da mãe. A minha mulher conseguiu comer duas conchas daquilo. O que sobrou foi pelo cano abaixo, não sem alguma dificuldade, uma vez que a consistência da sopa não era muito propicia a um rápido deslizamento em direcção ao único sítio onde ela pertencia: a rede de esgotos. Tenho a certeza que uma campanha de desratização realizada agora ia ter um sucesso enorme, pois com os arrepios que as ratazanas devem ter, será para elas muito difícil escaparem.
Para terminar. Este foi o post que mais tempo demorei a escrever. É difícil acertar nas teclas com arrepios constantes (sempre foram 5 colheres de sopa).