As aventuras de um pai temporariamente solteiro.....(parte 2)
A minha sogra não desiste. Telefonou cá para casa durante a tarde (tendo assim a certeza que eu não estava) e tentou convencer a nossa filha a ir passar uns dias a casa dela. Mas eu já sabia a resposta “NÃO. Polque o meu pai depois fica sozinho.” – respondeu ela à avó. Não satisfeita, a minha sogra pediu para falar com a nossa mulher a dias (a tardes é mais correcto) para que ela lhe confirmasse que não houve instruções (da minha parte) para aquela resposta tão clara que a nossa filha lhe deu e que a deixou desolada (grande sorriso na minha cara devido à palavra DESOLADA). É óbvio que não houve qualquer tipo de manipulação da minha parte. Felizmente conheço a minha filha, e sei que ela prefere mil vezes ficar aqui comigo e com os seus amigos da escola e da rua, do que ir para a casa dos avós onde teria algumas dificuldades em poder brincar com crianças da sua idade (não porque elas não existam, mas porque as avós iriam monopolizar todo o seu tempo, como acontece sempre que lá vamos de fim de semana).
Mas a grande novidade do dia nem foi essa. A grande novidade do dia foi: ENTREI PARA O QUADRO DO GOSTEI. Finalmente. Já estava farto de estar sempre no famoso quadro do não gostei “Não gostei que o pai dissesse asneiras.” “Não gostei que o pai tirasse a cabeça às minhas bonecas.” Não gostei que o pai me assustasse no escuro.” Não gostei que o pai me tivesse comido o chupa.” Porra, que cambada de mariquices. Todas elas escritas, obviamente, pela mão da minha mulher acompanhado de um, mais que evidente, regozijo. Mas hoje vinguei-me. Hoje está lá escarrapachado no quadro do gostei: “Adorei muitíssimo e fiquei impressionada com a grande qualidade e a excelente organização do meu pai. Pois para além de ter brincado comigo assim que chegou (o que aliás faz sempre, excepto se a mãe o chatear para que ele a vá ajudar) FEZ BATATAS FRITAS PARA O JANTAR IIIIIIIIIIAAAAAAAAAAAA. Embora me tenha dito que para comer as BATATAS FRITAS tinha em primeiro que comer a sopa fez MUITAS BATATAS FRITAS, mas tive que comer também um bocadinho de tomate, mas COMI TODAS AS BATATAS FRITAS QUE QUIS E AINDA LHE PEDI PARA GUARDAR O RESTO PARA AMANHÃ. IIIIIIIIIIAAAAAAAAAA. A mãe nunca faz batatas fritas pois diz que fazem mal e OBRIGA-NOS a comer umas coisas esquisitas que não sabemos o nome mas que o pai chama sabemal e mixórdia de blargh. Mas o pai É O MAIOR. E no fim das BATATAS FRITAS comemos arroz doce que a vizinha velhinha nos veio dar porque sabe que o pai está sozinho e tem pena dele e disse que amanhã nos ia trazer uma especialidade dela para o nosso jantar. IIIIIIIIIAAAAAAAA (este iiiaaaa é do meu pai). O pai, depois de ela se ir embora, disse qualquer coisa sobre pena e a filha de velhinha ser boa, mas eu não percebi (embora tenha a certeza que se a mãe o ouvisse lhe dava um pontapé). Mas isso também não importa. O pai disse que ainda antes da mãe chegar vai fazer outra vez BATATAS FRITAS porque o raio da fritadeira que deram como prenda de casamento tem que ser rentabilizada- acrescentou ele. Ainda por cima eu durmo com ele pois, como ele dorme sempre com a mãe, não está habituado, como eu, a dormir sozinho e pode ter medo do lobo mau. Ele não se importa nada, pois diz que até adormece melhor a olhar para o que de mais espectacular existe na sua vida e que ao olhar para mim, a dormir tão tranquila, esquece tudo o que de mau se passou durante o dia, acabando por adormecer a pensar que, de tudo o que já fez na vida, nada, mas mesmo nada, chega perto do prazer de me ter como filha.”
É óbvio que, com tudo isto que ela me obrigou a escrever, ficamos sem papel e com o quadro completo. Amanhã vou comprar mais papel para colar no frigorífico porque tenho a sensação que amanhã vou, novamente encher o QUADRO DO GOSTEI.
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