domingo, setembro 19, 2004

A minha mulher e as tecnologias......

Chegou o dia em que ela decidiu ver as filmagens das férias, sinceramente, para além de estar estourado, não me estava a apetecer recordar o tempo em que as minhas preocupações se limitavam a perguntar o que se ia comer nesse dia. Onde podia dormir umas boas sestas. Em que me divertia a praticar o meu desporto diário (ver quanto tempo aguentava sozinho no quarto sem que elas se apercebessem) e outras coisas que só de pensar nelas me vêm lágrimas aos olhos. Para que ela não me chateasse disse-lhe “Bom, tenho que ser eu a ligar os fios porque tu não percebes nada disso”- funciona sempre: “Ai é. Pois agora é que eu não quero a tua ajuda para nada. Vai-te embora e deixa-nos sossegadas.”- gritou ela. Esta da psicologia invertida funciona tanto nela como na nossa filha (ela diz que é orgulho eu digo que é birra, qualquer dia falo sobre o seu famoso “orgulho”). Mesmo assim, passados alguns minutos e algumas asneiras depois, não resistiu: “Olha lá, onde estão os fios para isto?” primeiro pergunta. Lá fui eu. Depois de lhe indicar onde estavam os fios (que já estavam ligados à televisão) piro-me outra vez. “Olha lá e isto põe-se em que buraco?”- e vão duas. “Olha para os desenhos que isso tem.” – respondi. “Mas eu não percebo nada destes desenhos. Anda cá explicar-me como é que isto se faz.” A partir daí acabou-se o sossego e voltei a ser o monstro insensível que nunca explica nada e para quem ela, qual alma caridosa, deixa sempre a leitura dos manuais (como se eles depois de uma primeira leitura se auto destruissem) e mais uma série de outras coisas que me levaram à conclusão que sexo nesse dia, só em sonhos. Bem me esforcei a dizer-lhe que, desde que comprámos a câmara (há quatro anos) já por diversas vezes lhe expliquei (não tenho a certeza mas penso que foi uma vez) como é que se fazem as ligações à televisão e que não tenho a culpa que ela esteja sempre na cozinha quando eu lhe estou a explicar essas coisas. Mais uma vez fiz o meu papel de bom marido e expliquei-lhe o óbvio. Mas ficou contente? Ficou novamente com vontade de ter relações comigo? NÃO. Porque o estúpido insensível (eu) quando explico as coisas é sempre de forma a que ela nunca as perceba. Pois. É CLARO QUE FAÇO DE PROPÓSITO, EU NÃO GOSTO DE CORRER O RISCO QUE ELA ME ESTRAGUE AS MINHAS COISAS QUE EU TANTO GOSTO. COMO É QUE ELA QUER QUE EU TENHA CONFIANÇA NELA SE A PRIMEIRA VEZ QUE AGARROU NA CÂMARA O FAZER ZOOM PARA ELA CONSISTIA EM ANDAR PARA A FRENTE E DEPOIS RECUAR.
Ok, já estou mais calmo. Continuando. Desconfio que, mais uma vez, me encontro perante algo que só posso considerar um defeito genético que afecta as mulheres da família dela. A mãe comprou há dois anos uma câmara de vídeo e até hoje só consegue filmar tectos, chão e paredes. Aliás, foi recentemente passear com um irmão à Sicília (a alegria do meu sogro quando ela lhe disse que queria ir sozinha comoveu-me) e quando voltou insistiu em nos mostrar as filmagens. Penso que nunca irei à Sicília, pois para além do chão só ter pedras, todas as paredes que eu vi estão cheias de rachas, para além disso as mulheres de lá nunca ouviram falar em cremes faciais para tratar a pele. Bom, admito que possa ter sido influenciado pelo excesso de zoom, mas..... Com antecedentes destes como é que eu posso ter confiança nela. É claro que a câmara é MINHA, é claro que o computador portátil é MEU, é claro que a máquina fotográfica digital é MINHA, mais ainda pela dificuldade que eu tive em convencê-la da necessidade que havia na sua compra (felizmente encontrei uma boa promoção no dia em que ela fez anos).