As arrumações.....
Quantas e quantas vezes ela se queixa que eu nunca sei onde estão as minhas coisas e que basta ela deixar de fazer o que está a fazer (que é sempre algo de muito importante como por exemplo, colar fotos e adicionar-lhe comentários maricas num álbum que ninguém quer ver, a não ser que a isso seja obrigado) para logo encontrar AS MINHAS COISAS, como ela tanto gosta de salientar. Pois, o problema é que as MINHAS COISAS, nunca estão onde eu as deixo, porque as MINHAS COISAS, são arrumadas na NOSSA CASA, por ELA em sítios que ELA predefine: “Olha, a partir de hoje as tuas coisas passam a estar arrumadas aqui.” Pois, mas o AQUI, é em MUITOS sítios, sinto-me como um esquilo no Inverno à procura dos locais por onde armazenou a comida no Verão, com a agravante que não fui eu que escondi o raio das MINHAS COISAS. Porque raio é que o telemóvel tem que estar num sitio diferente da carteira, ou porque os cintos não podem estar no mesmo sítio das cuecas, ou os meus sapatos têm que ficar só naquelas prateleiras e o computador portátil no fim de o utilizar tem que ir para o canto que ela definiu, sim, porque durante a noite, se ele ficar em cima da mesa, o mais provável é que comece a chorar por só no outro dia ir para dentro da mala para me acompanhar para o trabalho. “Se não fosse eu, esta casa era uma desarrumação.” diz ela de peito cheio (e que belo peito, diga-se de passagem). No entanto esquece-se que já fiquei, durante UM ANO, três dias por semana sozinho com a nossa filha e que nada de catastrófico aconteceu durante esse período, embora se tenham passado coisas estranhas, por exemplo, sempre que a porta da ama da nossa filha se abria, ela mal disfarçava um largo sorriso (que me parecia de gozo) e dizia “Então a sua mulher esqueceu-se, mais uma vez, de deixar cá fora a roupa para você vestir à menina?” Até parecia que ela ia de pijama (bom, acho que uma vez foi, mas fazem fatos de treino tão parecidos com pijamas que um homem acaba por não conseguir distinguir um do outro). Tirando esse pequeno pormenor, de resto a casa estava um brinco, era tão fácil saber onde estavam as minhas coisas e as da nossa filha, ou estavam num monte ou estavam noutro. Agora, quero saber da porra da MINHA POMADA para as hemorróidas (sim, porque também sou humano e tenho destas merdas) ando pela casa a rastejar junto de todas as gavetas da casa à procura dessa merda, como se o facto de ter que pôr pomada no cu não fosse já suficientemente humilhante. “ONDE ESTÁ A MERDA DA MINHA POMADA PARA O CU?” grito eu. “Agora não te posso ajudar.” diz ela. “Meda é malcliado pai” diz a nossa filha. “FO….(lembro-me que tenho uma filha em casa) CACA, CÓCÓ DE CÃO, PIPI DA MÃE, ESTOU Á RASCA DO CU, DIZ-ME EM QUE DIMENSÃO PUSESTE A CACA DA POMADA.” Grito eu mais uma vez. “Cu é malcliado, pai, diz-se labo” “Os grandes têm cu e os pequenos, como tu, é que têm rabo” respondo-lhe eu enquanto esgravato mais uma gaveta. “VENS ME AJUDAR OU NÃO? ESTOU A SENTIR AS BATIDAS DO MEU CORAÇÃO NO CU E DIGO-TE QUE NÃO É UMA SENSAÇÃO MUITO AGRADÁVEL.” Grito mais uma vez desesperado. “ASSIM QUE A NOSSA VIZINHA SAIR VOU-TE AJUDAR, MAS SE QUISERES PODES CONTINUAR A GRITAR MAIS ALGUMAS PÉROLAS DESSA TUA NOVELA PORQUE PENSO QUE ELA ESTÁ A GOSTAR.” Foda-se, as humilhações a que um homem se sujeita por não ter direito a um espaço só para as suas coisas (e por si escolhido) na (também) sua casa.
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