Uma noite igual a tantas outras....
Há coisas tão simples na nossa vida de homem casado: comer, ver televisão, escrever coisas que a deixem ficar mal, ler comentários facciosos de pessoas que não conhecem a realidade do homem casado, ter sexo e dormir logo a seguir, e pronto. Bom, o pronto era no tempo do meu pai. Agora ainda tenho de: pôr a mesa, tirar a mesa, arrumar a loiça na máquina, estender e apanhar roupa, tratar da moça quando ela acorda, apanhar a roupa do chão, limpar o fogão, tratar do jardim (porra, agora assim escrito, eu realmente faço muito coisa, a minha mãe bem me avisou das maldades deste mundo) e mais uma série de mariquices que ela se lembra de me mandar fazer só porque sou maior e mais forte que ela. Com tudo isto é normal que um homem, quando está sossegado a ver televisão, não queira ser chateado. Mas o tal sexto sentido delas funciona bem é nestas ocasiões, naquele momento em que estamos quase a dormir na sala: “Traz uma garrafa de água para a tua filha.”- grita ela. “Se ela é só minha deixa-a, que eu já a ensinei a beber directamente da torneira.” – penso eu, mas não respondo porque tenho algumas dúvidas se realmente ela está a falar comigo (por vezes acho que ela tem um homem imaginário, ou seja, aquele homem que ela gostaria que eu fosse, felizmente para ela a minha mulher imaginária desmazelou-se e engordou desalmadamente) “Então amor, traz a garrafa, por favor.”- continua ela. Agora tenho a certeza que não é para mim que está a falar (amor é só quando estamos na cama porra). “Olha lá, quando é que trazes a merda da garrafa de água para a tua filha se deitar sossegada”- grita ela. Ok, esta sim é a minha deixa. Quando elas começam a dizer asneiras temos que agir senão…. novas tarefas domésticas podem-nos ser atribuídas. “Olha lá, é preciso gritar e dizer asneiras à frente da moça, só porque eu estou com dificuldades em evacuar e por isso não posso atender logo ao chamamento da chefe suprema?”- digo eu, com um ar de quem acabou de passar por um grande sofrimento (porra, tive que sair do meu cadeirão e do meu quase sonho) e ao mesmo tempo indignado.
Mas depois acaba por aí? NÃO. Aí começa a verdadeira provação. Vamo-nos sentar os dois a ver televisão, quer dizer, ela a ler e eu a escrever, de vez em quando lá vem ela: “Olha lá, estou aqui a ler que…..O que é que tu achas disso?” (coisas do trabalho). Se um gajo passa o tempo a escrever estas coisas deve ser porque quer descontrair do trabalho. “Agora não quero falar nisso.”- respondo eu educadamente. “Estúpido, preciso da tua ajuda e é assim que me tratas.” Pronto, já a fiz feliz e dei-lhe assunto para a noite (temos que manter as nossas mulheres satisfeitas) só não sei como é que o homem imaginário dela aguenta depois, toda a conversa que se segue. Eu, no lugar dele, limitava me a abanar a cabeça e a dizer “hummm….tens razão….hummmm”.
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