domingo, janeiro 15, 2006

O jogo do Uno com a minha sogra.....

- Percebeste as regras? – pergunta-lhe a minha mulher.
- Claro. Lá por eu não ter um curso superior, não quer dizer que seja burra. – responde-lhe a minha sogra.
- Claro que não. Tenho colegas meus que são bem mais burros que você. – digo eu para aligeirar a coisa.
- Mãe, se continuas a dar pontapés ao pai, nunca mais começamos a jogar. – queixa-se a nossa filha.
……
- Eiii….Não comeces com batotices, eu posso ser velha mas não sou parva. Essa carta não é amarela é vermelha. – diz-me a minha sogra.
- Mas é o número quatro, logo é o mesmo número do que a carta que está no cimo do baralho. – respondo eu com a minha infinita paciência.
- Mas eu ainda há pouco joguei o quatro e disseram-me que não podia, e agora tu já podes? É por ser vermelho? Como és comunista tu já podes jogar o quatro vermelho, mas eu não, é isso não é?
- Mãe, não comeces com isso. As regras são como ele te está a dizer.
- Não comeces é tu. Sempre a defendê-lo. Não sei como é que casaste com um comunista.
- Pai, o que é um comodista?
- É uma pessoa com muita paciência para aturar a tua avó. Vamos continuar. Agora com esta carta você não joga. – digo eu para a minha sogra.
- Não jogo porquê? Ofendi o menino foi? COMUNISTA COMUNISTA COMUNISTA.
- Porra mulher. Explique lá o que é isso de um comunista para que a sua neta entenda o que é que você me está a chamar.
- Olha filha, foram os comunistas que deram cabo do nosso país com o 25 de Abril. – diz ela para a neta.
- Antes dos comunistas não havia 25 de Abril? – pergunta-me a minha filha.
- Não filha. Passávamos directamente do dia 24 de Abril para o dia 26. – respondo eu.
- Não desconverses. No tempo do Salazar é que era. – diz a minha sogra.
- Pois, por isso é que emigrou. – digo eu.
- Deixa-te de conversas e joga. – diz ela sem vontade de aprofundar o assunto.
- Ok, agora com esta carta mudo o sentido do jogo e você não joga. – digo eu para a minha sogra.
- COMUNISTA. – responde-me ela.
- Porra, mulher, você nem sabe o que é um comunista ou um socialista, ou esquerda ou direita, por isso limite-se ao que sabe. Logo, fique calada. – digo eu irritado.
- Já te disse que vou votar no Cavaco? – diz ela tentando provocar-me.
- Foi para isso que o 25 de Abril existiu. Para que cada um de nós possa escolher livremente em quem vota. Mesmo que não faça a mínima ideia do porquê. –respondo-lhe eu ao mesmo tempo que grito – UNO- tendo já a certeza que iria ganhar graças à carta que tinha.
- O que é que esta carta faz? – pergunta a minha sogra à minha mulher.
- Podes trocar de baralho com quem queiras. – responde-lhe ela.
- Quero trocar com o teu marido. – diz ela retirando-me a minha única carta e dando-me em troca dezenas delas. Tudo isto acompanhado por um riso digno de qualquer vilão dos velhos filmes de terror.
- Mãe, como é que se escreve foda-se? – pergunta a nossa filha da cozinha (onde está o quadro do não gostei).