domingo, fevereiro 19, 2006

Pequenas vitórias.....

Sempre que tenho que ir buscar a nossa filha a casa de uma amiga, tenho que apanhar sempre seca. Primeiro apanho seca da minha mulher porque a filha é dos dois e que não pode ser sempre ela a ir buscá-la, e porque tem que fazer o jantar, e porque o facto de eu estar a ver as noticias, por ela, não é desculpa, e que sempre levanto o cu do sofá para fazer algo de útil, e teca teca teca. Assim, lá tenho eu que sair do quentinho. Pelo caminho vou treinando o sorriso parvo, para que quando me abrirem a porta, verem logo que eu estou bom, e que só ali venho, única e exclusivamente, para vir buscar a nossa filha. NADA MAIS.
Chego sempre à conclusão, que o meu sorriso parvo nunca é claro o suficiente, para mostrar as minhas verdadeiras intenções, e assim, algo que deveria de demorar poucos minutos, ou na minha perspectiva, segundos, demora sempre mais tempo do que a piza (que entretanto encomendei quando descobri o que era o jantar) demora a ficar pronta. E isto porque sou sempre obrigado a entrar:
- ….porque está tanto frio aí fora e a sua cara parece de quem está a sofrer com isso.- diz-me a mãe da amiga da nossa filha. È o que chega para que o meu sorriso parvo desapareça e que tente despachar rapidamente aquele meu sacrifício.
- Então ela já está pronta? – pergunto eu, enquanto sou empurrado para dentro da casa.
- Estão para ali a brincar. Mas entre. Não seja tímido. Tire o casaco.
- Não. Deixe estar. Não me posso demorar. Tenho que ir ajudar a minha mulher a fazer o jantar. Fiquei encarregado de……de……de fazer a sopa e as horas que são…..- digo eu enquanto olho para o relógio e abano a cabeça em sinal de desespero.
- Deixe lá isso. Já lhe mostrei a casa?
- Sim. Várias vezes e sempre que cá venho. – respondo eu, pondo novamente o sorriso parvo, para ver se fica clara a minha vontade de me ir embora.
- Você é tão engraçado. Venha ver o quarto da minha filha. Estive lá a fazer umas mudanças. Assim aproveitamos e chamamos a sua filha.
E lá sou eu arrastado, mais uma vez, para uma visita guiada.
- Repare como agora a cama dela ficou mais bonita. Parece mesmo que dorme numa maçã. Não é?
- Sim, que giro. – respondo-lhe, virando-me depois para a minha filha - Filha, vamos embora que a mãe tem uma surpresa para nós.
- Eu não quero comer as surpresas da mãe. – responde-me ela.
- Portaram-se tão bem. A sua filha é um amor. Vê-se mesmo que é muito bem educada. Queres mais umas bolachas ou um chocolate? – pergunta à minha filha.
- Não. Deixe estar porque está na hora do jantar, e depois a mãe dela bate-nos se nós não o comermos. – digo, enquanto meto uma das bolachas que me foi oferecida na boca, rapidamente e sem que a minha filha se aperceba disso.
Bom, finalmente lá consigo tirar a minha filha de lá. Depois de dizer adeus cinquenta vezes, porque o raio da mulher insiste em ficar à porta da rua até nós desaparecermos de vista, lá vamos buscar a piza, que entretanto já está fria, e chegamos a casa onde somos recebidos calorosamente:
- Mas é sempre o mesmo? Porque raio sempre que sais de casa para ir buscar a tua filha, regressas sempre com uma piza? ACABOU. PARA A PRÓXIMA VOU EU BUSCÁ-LA.

E reparem que nem foi preciso falar do suposto assédio sexual de que fui alvo.