domingo, outubro 09, 2005

Os amigos da nossa filha (parte 2)....

O Hein é um moço mais calmo. Aliás, é tão calmo que as ideias demoram um pouco a chegar ao cérebro. Eis um excerto do que se passou, na última vez que o Hein cá veio jantar:
- Então moço, queres cá jantar? – pergunto-lhe eu, enquanto o filmo de babete a mudar as fraldas a um boneco.
- Hein?
- Se queres cá jantar.
- Hein? – diz, abanando a cabeça no que me parece um sim.
Na hora de jantar:
- Embora para a mesa. – chamamos nós.
- Onde é que vais? – pergunto-lhe eu.
- Hein? – diz ele, enquanto abre a porta da rua.
- Já combinámos com os teus pais que jantavas aqui, por isso fecha a porta e toca a ir para a mesa.
- Hein?
Bom, lá o convenço a ficar. Depois, durante o jantar:
- Queres mais?
- Hein? – diz, abanando mais uma vez a cabeça num sim.
Passado uns segundos, tira o prato da frente não tendo tocado na comida que eu lhe acrescentei. Bom, no final do jantar a nossa moça vai buscar um gelado e pergunta-lhe se ele quer um, obviamente que não vou pôr aqui a sua resposta. Foi então, já com o gelado na mão, que o Hein fez algo que me levou a preparar uma experiência cientifica para testar a seguinte hipótese: o Hein só come o que tem na sua mão direita.
Tudo começou quando resolveram ir fazer desenhos no quadro de ardósia, após alguns minutos fui chamado para ir ver os desenhos feitos e reparei em algo de extraordinário. Enquanto a nossa filha estava a desenhar, o Hein deliciava-se a lamber o giz, enquanto o gelado ia derretendo na sua mão esquerda. Aquilo fascinou-me e fiquei atento para ver quanto tempo ele iria demorar, até se aperceber que algo de estranho se passava. O meu interesse científico despertou-lhe a curiosidade, pois passou a olhar fixamente para mim, e assim ficámos não sei quanto tempo, eu a olhar para ele e ele a olhar para mim entre lambidelas no giz. Quando ele começou a lhe dar pequenas trincas, achei que estava na altura de passar para a fase dois da experiência. Assim, apontei para a sua mão esquerda, onde o gelado quase já não existia (tinha-se formado uma pequena poça no chão com os seus restos) e depois para a sua mão direita (onde o giz, também, já quase não existia). Ele, como se fosse a coisa mais natural da sua vida (e provavelmente até era) troca ambos os objectos de mão e começa, finalmente, a comer o que resta do gelado. Infelizmente não pude fazer mais uma experiência, para comprovar a minha hipótese, porque assim que a minha mulher me viu a tirar mais um gelado da arca, começou a ralhar comigo porque o médico…..teca teca teca. Para não levar mais seca, tive que lhe dizer que o gelado não era para mim, mas sim para o Hein e contei-lhe a experiência científica que estava a levar a cabo. Bom, apenas posso dizer que se a minha mulher fosse ministra da ciência e tecnologia, a nossa investigação não estaria ….(pausa para pensar)…..bom, não estaria muito diferente de como está actualmente. De qualquer forma, não hão-de faltar oportunidades para eu comprovar a minha quase certa conclusão.
Finalmente temos o Trriiiim. Sobre o Trriiiim pouco sei. Porquê? Porque o puto nunca entra na minha casa, pois às horas a que ele aparece a tocar à campainha, já a nossa filha está na cama a dormir, ou está a preparar-se para isso. Pelo que o Trriiiim é o único que ainda não tenho filmado em poses que, quando estiver na adolescência e quiser convidar a nossa filha para sair com ele de mota/carro/comboio/avião/triciclo/a pé/etc., o vão fazer pensar duas vezes.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Os amigos da nossa filha (parte 1)....

A nossa filha tem três amigos. Bom, são mais conhecidos do que amigos, pois só pensam em jogar à bola e nunca, ou quase nunca, querem brincar com ela às casinhas. Temos então o Atanão, o Hein e o Trriiiim, nomes pelos quais eu, carinhosamente, os trato. O Atanão é um puto jeitoso e cheio de si, e que tem, sem dúvida, uma pequena paixão pela nossa filha, pois só assim consigo compreender a sua enorme paciência, para lhe querer ensinar a jogar futebol, sem que ela esteja constantemente a agarrar na bola com as mãos. Essa sua paciência não é, no entanto, infinita, e quando começo a ouvir muitos palavrões, já sei que está na altura de ir buscar a nossa moça ao ringue. Assim que lá chego, o puto derrete-se em explicações para justificar a carrada de asneiras que proferiu. Eu mantenho-me calado enquanto o ouço, pois se digo algo já sei que me vou desmanchar a rir. Quando ele se cala, é a vez da nossa filha se defender: ...que a bola é bonita demais para andar aos pontapés a ela; que não quer estragar os sapatos que tem; que a mãe não quer que ela se suje; .... Quando começo a sentir os palavrões quase a sair da minha boca, agarro nela e venho para casa. O Atanão resolve, quase sempre, acompanhar-nos, talvez para se tentar desculpar. Começam então a brincar às casinhas. Aqui, a nossa filha, não sei por que influências, resolve que ela é que é a chefe da casa (muito cuidado com qualquer comentário a isto….) sendo quase sempre a mãe da bonecada toda. O puto só tem duas hipóteses, ou é mais um filho, ou é o cão da família, e aí começa a parte divertida da brincadeira:
- Tens que ladrar. – diz a nossa filha.
- Atanão.
- Tens pois. Senão não podes ser o cão.
- Atanão.
- Então se não queres ser o cão, tens que ser o filho e tens que pôr este babete para não te sujares.
- Atanão.
- Vá lá. E depois ficas aqui em casa com a barbie, a fingir que é a tua irmã mais nova e tens que a vestir.
- #$%#”#$&.
Lá tenho eu que voltar a interromper a brincadeira, tentando fazer uma cara séria e ameaçando o puto de que, se ouvir mais asneiras, o ponho fora de casa. Bom, depois lá chegam a um acordo sobre quem é quem e o que tem que fazer, e é aí que vou buscar a máquina de filmar, para registar para a posterioridade, o Atanão com um avental a dar de comida às Barbies.