quinta-feira, dezembro 30, 2004

Curtas da vida de casado.....

Antes de partir para passar o Natal em casa dos avós:
- Filha, só nos vamos embora depois de arrumares o teu quarto.- diz-lhe a mãe.
- Mas eu não consigo arrumar sozinha. Está muito desarrumado.
- A mãe está farta de te ajudar a arrumar os teus brinquedos. Para além disso, tenho que ir fazer as malas para irmos embora. Por isso quero que arrumes, sozinha, os brinquedos.
Vira-se para mim e diz-me:
- Pai. Queres brincar comigo a uma coisa muito gira?
- Olha lá, ó melga. A mãe não te mandou arrumar o quarto?
- Siiiim…. Mas ouve o que eu quero dizer. É assim: Quem me ajudar a arrumar o quarto é um príncipe. Está bem pai?
- Olha lá, mas tu pensas que eu sou o quê? Eu não quero ser nenhum príncipe.
- Poça. Mas podias ser só um bocadinho pequenino.
- Deixa-te de tretas e toca a arrumar os brinquedos no sitio, senão ainda vamos embora e passas o Natal aqui sozinha.
- Eu sei que se eu ficar tu também ficavas, porque estás farto de dizer que querias ficar aqui o Natal.
- Mas tu não achas que andas a ouvir coisas a mais? Chega de conversa e toca a despachar.
- Olha, tive uma ideia. Vamos brincar aos pais e às mães. Eu sou a mãe e tu és o pai.
Enquanto eu sorria e me preparava para terminar com aquilo, ela sai-se com esta:
- Olha lá para isto tudo desarrumado.... Ai ai ai. Já estou farta de te dizer para não deixares as tuas coisas espalhadas pela casa. Depois tenho que ser eu a arrumar tudo sozinha. Vá. Ajuda-me já a arrumar isto tudo, porque eu não sou tua criada. Ouviste?

A caminho da nossa casa:
- Pai, quando é que chegamos a casa?
- Filha, ainda agora saímos de casa das avós.
- E ainda falta muito?
- Sim filha, ainda falta muito.
Passados dez minutos:
- Pai, quando é que chegamos a casa?
- Filha, se adormeceres chegamos a casa mais depressa.
- Porquê?
- Porque quando tu adormeceres, eu ponho o carro a voar.
- A VOAR…….
- Sim, mas para isso tens que dormir.
- Porquê?
- Olha, porquê. Porque é assim que funciona.
- É para os meninos não se assustarem quando estão a voar, pai?
- É isso mesmo. Ainda bem que tu consegues desenrascar tão bem o pai. Agora que sabes o porquê, toca a dormir.
- E quando estivermos a voar, acordas-me? Eu prometo que não me assusto.
- Não posso, porque isto só funciona quando tu estás a dormir. Assim que acordares o carro aterra logo.
- Poça. É sempre o mesmo. Nunca mais sou grande para poder ver, todas as coisas giras que tu dizes que acontecem quando eu estou a dormir: o pai natal… a fada das unhas... Agora também não durmo, que é para vocês não voarem sem eu ver. Pronto.

terça-feira, dezembro 21, 2004

O natal…..

Está a chegar o natal, época de amor e de paz. O que na minha casa quer dizer discussão sobre os mais variados assuntos ligados a esta época tão especial: “Porque raio fazes chantagem com a filha para que ela te diga o que te comprei para o natal?” pergunta-me ela irritada. “Porque quero ter a certeza que o dinheiro que gastaste comigo foi bem empregue, e que não compraste uma porcaria qualquer de uma camisola que eu nunca irei usar.” Respondo eu, na minha qualidade de chefe do sector financeiro, ao mesmo tempo que lhe sugiro a compra de uma placa de TV para o computador, como prenda ideal para ela me fazer uma surpresa, mas isso não a comove.
Outro tipo de discussão, é sobre o local onde jantar e almoçar, respectivamente na véspera e dia de natal, se na casa dos meus pais se na casa dos meus sogros. Isto porque os velhos não se dão muito bem uns com os outros. Bom, por acaso os velhos até se dão bem, quem não se dá muito bem são as velhas. Porra para as mulheres. Sempre que se encontram têm sempre baboseiras para dizer uma à outra, e depois só não andam à estalada porque a minha mulher não deixa. Na minha opinião, se elas querem andar à chapada que andem. Porra, há anos que eu e os velhotes temos apostas feitas sobre a provável vencedora. Eu aposto na minha sogra, não pelo peso, porque aí são ambas pesos pesados, mas porque a minha mãe ao contrário da minha sogra, tem dentes postiços. O meu pai e o meu sogro têm mais fé na minha mãe. Dizem que a minha mãe, como é mais alta, consegue asfixiar a minha sogra se a apertar fortemente contra o seu grande peito.
Já uma vez, no ano em que a nossa filha nasceu, passamos o natal todos juntos, na casa da minha sogra. Bom…….posso apenas dizer que já fui a funerais mais animados.
Já disse à minha mulher que, o melhor, era nós ficarmos por aqui na nossa casa, na nossa bela vila e no nosso Alentejo, só com a nossa pequena família. Os outros, se quisessem, que viessem ter connosco, mas isso só serviu de pretexto para ela me chamar bicho do mato. Mesmo o facto de sermos dois a ter a mesma opinião (eu e a nossa filha) não a demoveu, até porque a nossa filha é uma troca tintas, e bastou a minha mulher falar-lhe nas possíveis prendas das avós, para ela começar aos pulos e saltos gritando ao mesmo tempo que queria ir para casa deles.
Assim, lá vamos ter que chegar a acordo com as velhas sobre o tempo passado na casa de cada uma delas (por vezes parece que contado ao minuto). Também já sugeri à minha mulher que, uma vez que elas nos querem tanto, porque não pagarem por esse privilégio, ou seja, vamos para casa daquela que nos pagar mais. Obviamente que não ponho aqui a resposta dela, porque uma mulher a dizer asneiras é algo que não tem a mínima piada, principalmente quando essas asneiras ferem a sexualidade do macho. Porra, um gajo não pode ter espírito empreendedor.

domingo, dezembro 19, 2004

A Festa de Natal da Escola da nossa filha.....

Nesta época especial
De amor e complacência
A festa de natal da nossa filha
Vem-me dar cabo da paciência

Que raio de mania
Esta das festas de natal
E eu lá tenho que ir
Senão ainda me levam a mal

Partimos nós então
Ela feliz e contente
A treinar a canção
Que cantaria para toda a gente

Logo aí deu para perceber
Aquilo que me esperava
Ouvir durante horas
A música a ser massacrada

Chegámos atrasados
Não fossem eles estranhar
Afinal esse é o nosso lema:
Nunca pelos outros aguardar

A sala estava cheia
De pais e flashes a piscar
Parecia uma ante estreia
Na Broadway parecia estar

Lugar para me sentar
Parecia não existir
Tios, avós, primos, e sobrinhos
Todos tinham vindo assistir

Atrás tive que ficar
Sem nada conseguir fazer
Já havia brigas entre mães
Por um lugar onde se pudesse ver

De espectáculo nunca mais
E enquanto esperava
Olhava à minha volta
E outro show observava

Filhos e mães à luta
Nesta festa de natal:
“Se tocas no meu filho
Aguarda-te um vendaval”

Com estes acontecimentos
Entretido estava eu
Quando um coro subiu ao palco
E a “música” apareceu

Não percebo como conseguem
Bater palmas no final
Eu posso ser pai babado
Mas isso não me põe a ouvir mal

Finalmente lá terminou
O massacre musical
Muitas horas demorou
Esta festa de natal

Mesmo assim posso dizer
Com orgulho e sem presunção
A nossa filha deu ao pai
Mais motivos de satisfação

No meio de tudo aquilo
Foi a única que não desafinou
Pois quando foi para cantar
Acanhou-se e calada ficou

Por mais que a mãe tentasse
Ao cantar ela dizia que não
É tal qual como o pai
Não gosta da confusão.

terça-feira, dezembro 14, 2004

O governo desta família.....

Ouvi um dia alguém dizer, que governar o país era como governar uma família. Existem de facto, muitas semelhanças estranhas entre o governo deste país e o governo da minha vida de casado. Começa logo pelo presidente da família (obviamente que sou eu, auto-proclamado, mas eu) o qual tem algumas dificuldades em suportar a falta de respeito e a arrogância, daquela que se julga primeiro-ministro deste governo, neste regime semi presidencialista. Ela não liga nada ao que o presidente diz e tem ainda, a lata de mandar recados para o mesmo, e até, de o insultar à frente do povo (a nossa filha). Mas o que mais me magoa não é isso, porque um presidente deve de ter estofo para aguentar estas coisas. O que mais me magoa é a falta de respeito pelo orçamento, o qual foi amplamente discutido e aprovado por larga maioria. Ora eu, que prometi vigiar atentamente o cumprimento rigoroso do orçamento (sou eu que trato da contabilidade familiar) começo a estar farto dos sucessivos pedidos para orçamentos rectificativos, que ela me apresenta. Ainda este fim de semana andou de volta do catálogo de compras de roupa, toda contente: “Isto é para a minha mãe, trá, lá, lá..... Este é para o meu pai, trá, lá, lá.....Este é para mim, trá, lá, lá...Este é para o meu amor, trá, lá, lá.....” Tanto trá, lá, lá, chateou-me: “O teu amor tem 2 pares de calças, 4 camisas, 2 casacos, 3 camisolas, 4 pares de meias, 5 cuecas, e 4 pares de sapatos e CHEGA.” É que, aqui o presidente, começa a estar farto do buraco orçamental que a compra de roupa provoca. Depois, existem ainda os gastos efectuados, sem a apresentação do respectivo comprovativo: “O papel? Qual papel? Isto foi tão barato que nem me lembrei do papel do multibanco.” Ou então: “Toma lá os papéis que tu tanto gostas e que descobri no bolso do casaco.” Diz-me ela, enquanto despeja para cima de mim recibos de multibanco, cujo mais recente, data de 2002. Para além disso, tem a estranha mania de ir buscar receitas extraordinárias à minha carteira, o que já me levou a situações embaraçosas. A pior das quais, foi quando tive que fugir com um quilo de maçãs, porque a senhora não acreditou na minha honestidade e começou a correr atrás de mim, ameaçando-me com a sua bengala, e por mais que eu tentasse explicar a minha falta de dinheiro (à qual eu era alheio) e tentasse, inclusive, deixar o saco das maçãs, ela, com a sua fúria, só tinha em mente ensinar-me a não enganar velhinhas que andam a tentar ganhar a vida. Bom, quando os seus gritos começaram a chamar a atenção de muito mais gente, optei por correr sem olhar para trás. Obviamente que, depois, obriguei a minha mulher (assim que a consegui levantar do chão e fazer com que ela parasse de rir) a ir explicar à senhora que eu não era um "Cabrão dum filho da pu... dum drogado." (andava com a mania de deixar crescer a barba e as calças TALVEZ precisassem de uma lavagem). Voltou com mais meio quilo de maçãs, e um pedido de desculpas, agora sempre que lá vou dá-me uma maçã “...especialmente para o menino.”
Continuando. Até há uns meses, quem mandava no governo era a “nossa” gata: “O que é que fizeram à gata para ela vir miar para o pé de mim?” “Filha, larga o rabo da gata imediatamente senão vais já para a cama de castigo.” “Querido, há quanto tempo não mudas a areia da gata? VAI JÁ TRATAR DISSO.” “Filha, porque raio é que tenho pegadas pintadas por toda a casa. AAAAAAAAAHHHHHH (este grito foi depois de ver a gata toda pintada de fresco em cima da nossa cama)” “Olha lá, porque que é que deste uma palmada à gata? Ela não percebe que esses papéis eram importantes. É bem feita para ver se aprendes a não fazeres da sala escritório.” Bom, podia continuar com muitos mais exemplos de como éramos tratados, atrevo-me mesmo a dizer mal tratados, por causa da gata. Assim, não foi de estranhar a nossa alegria quando ela desapareceu (não sei se o facto de me ter esquecido de lhe dar a pílula teve algum efeito, mas…).
Agora temos uma déspota (ia dizer caudilho, mas também não é preciso ofender) à frente dos destinos da nossa família, a qual manda em todos, inclusive no presidente, e ai de quem não cumprir as suas ordens. Só há um (grande) problema: Não a posso destituir. Porquê? Digamos que toda a legislação que domina esta família é proposta, discutida e aprovada na cama, e aí, por mais que discorde da sua acção política, nunca consigo vetar nada. Porra para isto.....

domingo, dezembro 12, 2004

Curtas do fim de semana.....

Sexta-feira à noite:
- Amanhã, logo de manhã, vamos fazer a árvore de natal e enfeitar a casa. O que dizes?- perguntou-lhe a minha mulher.
- IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIAAAAAAAAAAAAAAAAAAA- gritou a nossa filha.
Sábado, SEIS E TRINTA DA MANHÃ:
- Mãe. Pai. Acordem depressa. Vamos fazer a árvore de natal. Já é de manhã. Embora. Já estou vestida para ir ao sótão, com o pai, buscar os enfeites.

Ao jantar de sábado:
- A sopa está fria- diz a minha mulher.
- Pois está, já não quero mais sopa.- responde a nossa filha
- Deixa que a mãe vai aquecer no micro-ondas.
Depois da sopa aquecida:
- A sopa tem falta de sal.- diz, mais uma vez a minha mulher.
- Pois tem. Agora é que já não como mais sopa.- responde a nossa filha.
- Deixa-te de exageros. Vou buscar o sal para a sopa ficar boa.
Depois do sal:
- Temos que comprar alguns enfeites novos. Muitos dos que estavam no sótão estavam uma porcaria. – diz-me a minha mulher.
- A sopa também está uma porcaria. Já não como mais sopa. - concluiu a nossa filha.

- Pai, porque é que estás a estragar os estores? - pergunta-me ela.
- O pai não está a estragar nada filha, o pai está a vedar a caixa dos estores. - respondo lhe eu.
- Porquê?
- Para o frio não entrar.
- Porquê?
- Olha, para não termos frio, é claro.
- Mas o frio quando entra fica quente, não é pai?
- Sim filha.
- Então porque é que não deixas entrar o frio para ele se aquecer?
- Filha. Vai ver se eu estou na sala a ver televisão.
- Está bem.
Passados uns segundos:
- Pai, não estás na sala.
- Olha lá tonta, se eu estou aqui, podia estar na sala a ver televisão?
- Não.
- Então porque foste ver?
- Porque tu mandaste.
- E tu fazes tudo o que pai manda, não é amor?
- É.
- Então vai chatear a tua mãe.
- Está bem. - disse-me, enquanto saía do quarto a correr.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

A domesticação de um homem.....

Sabemos que estamos completamente domesticados pela nossa companheira quando:
* Nos apercebemos que só mijamos de pé fora da nossa casa.
* Ficamos incomodados quando vemos algo desarrumado
* Passamos o almoço a discutir receitas com colegas do sexo feminino.
* Nos manda comprar roupa para a filha (mesmo que sejam só camisas interiores)
* Passamos uma viagem inteira, com ela a conduzir, sem fazermos qualquer reparo.
* Dizemos à nossa filha que o que ela tem vestido não combina (esta é uma das mais esquisitas)
* Ralhamos com a nossa filha por ela querer comer doces antes das refeições (bom, esta é mais por vingança, se eu não posso, porque raio é que ela pode?)
* Ralhamos com a nossa filha por ela não comer os vegetais todos.
* Já não arrotamos com o entusiasmo dos primeiros tempos.
* Ficamos com nós na garganta depois de vermos filmes maricas (embora se nos mostrarmos emocionados, mesmo que seja um pouco forçado, vamos ouvir algo do tipo: "Ó amor, tão querido. Também ficaste emocionado?" e temos a noite garantida.
* Olhamos para uma moça boa e discutimos as cores da sua roupa (é claro que esta é uma táctica que eu descobri para evitar levar beliscões e poder olhar à vontade, o meu problema é que me esqueço rapidamente do raio das cores e reparo mais nas formas, depois ouço um grito acompanhado por um beliscão: “Que eu saiba não existe nenhuma cor ‘bem boa’”)

domingo, dezembro 05, 2004

Curtas da Vida de Casado....

Um pai sabe que anda a exagerar nas histórias que conta, como respostas às eternas e por vezes complicadas, perguntas da sua filha, quando esta, após mais uma resposta minha a uma sua questão, se volta para a mãe e lhe pergunta: “Mãe, aquilo que o pai disse é verdade?”

Após uma discussão com a mãe sobre roupa:
- Pai, tenho um segredo para te dizer. - disse-me sussurrando ao ouvido.
- Diz lá o que é filha, que o pai não conta a ninguém. – respondi-lhe, descansando-a.
- Olha, não digas nada à mãe. - continuou sussurrando de uma forma que qualquer pessoa num raio de 10 metros a ouvia – É um segredo muito importante, não lhe contes nada.
- Sim, filha. Continua a sussurrar assim e o segredo está bem guardado. – disse eu enquanto olhava para a minha mulher e lhe sorria.
- Sabes, a mãe é muuuuuitoooo bonita, mas também é muuuuuuitoooo CHATA. – concluiu ela enquanto eu me ria e ela, ao mesmo tempo, me tentava pôr a mão na minha boca para eu me calar, não fosse a mãe dar pelo “segredo”.
A partir desse dia temos um segredo só nosso, e por mais que a mãe insista, ela apenas diz que o segredo é que a mãe é muuuuuuitooooo bonita.