sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Aventuras......

- Pai. Estamos perdidos......
- Pois estamos.....e eu estou tão cansado....não sei se aguento muito mais..... - digo, com a língua de fora e a perder o equilíbrio - Boa noite Dona Angelina - respondo eu, ao cumprimento que a senhora me fez.
- Coragem pai. Vamos, de certeza, conseguir sair daqui.
- Não sei...já viste o que nos espera mais à frente!!??? - digo, desesperado.
- Não. O que achas que é aquilo?
- Um grande e perigoso rio...... - respondo-lhe - Pois, cá estamos Sr. Mendes - respondo ao abanar de cabeça que o homem me dirigiu.
- Aiai, tenho medo....Achas que vamos conseguir passar.
- Não sei..... Dá-me a mão para atravessarmos os dois ao mesmo tempo. Estás pronta? - pergunto-lhe confiante.
- Sim, estou. - diz-me ela enquanto me aperta a mão com força.
- Espera, deixa o carro passar........... Vamos então.
- CUIDADO PAI. ESTE RIO TEM CROCODILOS....DEPRESSA, VAMOS ATÉ À MARGEM....NADA PAI.
- Poça, foi por pouco. - digo arfando - Então, ainda por aqui na rua com este frio, Dona Maria. - respondo eu ao olhar estranho que a senhora me envia.
- Olha!!! Está ali um monstro deitado e temos que passar por ele.
- Pois está. Vamos....muito devagarinho....cuidado.....não o pises. CUIDADO ESTÁ A ACORDAR.....CORRE....- grito eu desesperado - Pois é, estas crianças, sabe como é! - respondo eu, aos sorrisos amarelos do Sr. Francisco.
- Conseguimos passar. Boa pai. Estamos quase a chegar.
- Quase??? QUASE???? ESTÁS A GOZAR COMIGO??? REPARA QUE AINDA TEMOS QUE PASSAR POR AQUELA SELVA CHEIA DE LEÕES E COBRAS ANTES DE CHEGAR À NOSSA CASA. - grito de desânimo - E eu não sei se consigo.... - termino desolado.
- Consegues pois. Eu estou aqui para te ajudar. - responde-me ela, dando-me a tão necessária confiança que eu precisava.
- Olha, e ainda temos que passar por aquele rio grande!! - continuo eu.
- Mas tem uma ponte. Não te preocupes e bebe um pouco desta minha água mágica. - diz-me ela passando-me o seu "cantil" onde supostamente está a tal água mágica.
- Blargh....sabe a sopa da mãe....prefiro ficar com sede. - respondo eu, enquanto "cuspo" a sua água mágica no meio de horríveis caretas.
- hihihihihi.....Anda, vamos passar a ponte. - diz ela enquanto me dá a mão.
- Sim, mas espera que aquele carro passe.
- Está bem.
- Vamos. - digo-lhe enquanto passamos - Já está. Agora só falta passar por esta selva para chegarmos a casa.
- Olha. Ali estão os leões. Tenho medo..... - diz-me sussurando, enquanto se encolhe.
- OLHA ALI UMA COBRA ENORME....FOGE.....CORRE....- grito-lhe enquanto começo a correr e ela vai ficando para trás.
- PAI ESPERA POR MIM....MAU....NÃO ME DEIXES AQUI SOZINHA NA SELVA.- grita ela desesperada.
- CORRE. - grito-lhe - FORÇA....ANDA TER COMIGO.....VÁ, NÃO TENHAS MEDO....
- PORQUE É QUE ME DEIXASTE ALI SOZINHA NO MEIO DAS COBRAS. - grita-me, assim que chega ao pé de mim.
- Porque eu sei que tu és uma mulher valente, e que conseguias dar cabo do teu medo e defender-te de todos aqueles monstros, que lá estavam, sozinha, e sem a minha ajuda.
- Hmmmm...Então está bem. - diz ela cheia de orgulho.
- Chegámos....Poça, foi uma grande aventura. - digo, enquanto meto a chave na porta de casa.
- Pai, amanhã vamos outra vez a pé à biblioteca, e depois perdemo-nos outra vez? - diz ela, num tom suplicante.
- Sim, mas tem que ser por ruas onde não passem pessoas, para que a mãe não ouça, mais uma vez, que tem um marido assim.......Como é que te hei-de dizer isto?
- Assim tão divertido, não é pai? - diz ela enquanto me puxa para baixo e me dá um beijo, indo depois arrumar os seus sapatos e dirigindo-se depois para junto da mãe para lhe contar a nossa grande aventura.
- Sim, filha. É isso. Divertido. - termino eu, esquecendo-me do que raio é que eu lhe queria dizer e pensando que na próxima aventura, temos que levar umas botas, isto porque, no caminho para a biblioteca, existe uma enorme montanha para escalarmos.....No topo dela, tenho a certeza, existem muitos mundos por descobrir......

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Toda a verdade sobre......"Vida de Casado"

Finalmente, toda a verdade sobre o Casado vai ser mostrada: Será que é tão sexy como evidencia a sua escrita? Será mais parecido com o Tom Cruise ou com o Brad Pitt, ou, dada a sua idade, será como o George Clooney? (obviamente, antes deste ter engordado)

E a casada? Será que é chata, ou apenas embirrante? Será que vai mostrar todo o seu mau feitio, ou pelo contrário, vai fingir que não o tem?

E a filha? Será que existe, ou é apenas produto da imaginação de um lunático? E será que o casado consegue suborná-la para que só fale bem dele?
E será que a sogra vai aparecer de surpresa para partir tudo?

Não percam, Sábado na Rádio Comercial, ao meio dia: Vida de Casado……
.........Toda a Verdade Será Revelada........

Pequena Adenda: Parece que, antecipando o enorme sucesso que o programa irá ter, a Rádio Comercial irá repeti-lo no Domingo às 18 horas.
A invejosa da minha mulher diz que isso É A PROGRAMAÇÃO HABITUAL DESTA RUBRICA. Seja lá o que for, eu penso que a minha teoria faz muito mais sentido.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Letras e números….

- Pai, olha. Já consigo fazer os puzzles das letras sem olhar para a imagem que está na caixa. – diz-me ela toda orgulhosa.
- Poça filha. Pois consegues. MÃE, ANDA VER A NOSSA FILHA. JÁ CONHECE AS LETRAS TODAS. – grito eu também todo inchado.
- Filha, mas que giro que isso está. Conseguiste fazer tudo isso sem olhar para a caixa? – pergunta-lhe a minha mulher.
- Sim – responde ela toda orgulhosa – É fácil. Só tens que arrumar muito bem as peças na caixa e assim quando as tiras já vêm com a ordem certa. – terminou ela.

- Que número é este? – pergunta-lhe a minha mulher.
- Espera aí. – responde-lhe a nossa filha enquanto vai buscar o telecomando da televisão e começa a contar os números. – é o nove. – responde depois acertadamente, para desespero da mãe que a proíbe, contra a minha opinião, de ver mais televisão nesse dia.

Num passeio pelas ruas de Beja e enquanto passávamos num muro cheio de grafites:
- Olha pai, tantas letras.
- Pois....Vamos embora. - digo, ao ver algumas das palavras lá escritas.
- Espera. Olha, vou-te mostrar que já conheço as letras.
- Não é preciso filha. Anda, vamos embora.
- Deixa-me mostrar-te. Vá lá. Por favor. Só um bocadinho.
O que pode um pai fazer perante tal pedido?
- Está bem, mas despacha-te. - respondo-lhe.
- Olha, esta palavra começa por um C.
- Não podes escolher outra?
- Não. Olha e depois é um O, depois um N e depois um A. E agora como é que se lê?
- Bom.....lê-se MÃE.
- Não lê nada. Eu sei escrever MÃE e não é assim. Estás a mentir.
- Não estou nada. É.......É outra forma de escrever mãe.
- hmmm....acho que me estás a enganar. Olha!! Esta também começa por um C e tem no meio um R como no meu nome.
- Pois....Essa é outra forma de dizer PAI. - digo, antes que ela continue.
- Não tem vergonha de andar a ensinar a filha a dizer asneiras. - diz uma velhota atrás de mim, em tom ameaçador. Dirige-se depois para a minha filha e diz - O teu pai é um #$%&$
- Pai, eu não acho que sejas um #$%&$.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Chuva de estrelas…..

Este fim-de-semana a associação de pais, aqui da terra, resolveu organizar uma chuva de estrelas para os adolescentes e para a criançada. Convidaram os Anjos para fazerem parte do jurí, e eles aceitaram. Não sei quanto é que lhes pagaram, mas qualquer que tenha sido o valor, foi de certeza baixo demais para aquilo que eles tiveram que aturar. Pela minha parte, e uma vez que a mim ninguém me pagou nada, resolvi sair assim que comecei a sentir as batidas do meu coração na minha cabeça, ou seja, após a primeira música. Mas como a minha filha ia ser a 10ª a cantar, acabei por fazer um esforço e ficar (os poderes de persuasão da minha mulher não param de me espantar).
Conclusão: Só sai ao intervalo (depois da nossa filha cantar) e quando, para além do coração, já sentia também os pulmões e os intestinos dentro da minha cabeça.
Sobre a performance da nossa filha, posso dizer que, mais uma vez, evidenciou-se pela positiva, e quero deixar aqui o meu claro protesto pelo facto de ela e a sua companheira não terem ganho. Considero que o jurí foi comprado e que o que se passou foi uma completa injustiça. Porquê? Porque foi a canção mais curta que lá houve e só por isso mereciam ganhar.
Quanto a quem organizou o espectáculo, a associação de pais, só tenho isto para dizer:
NÃO É COM COISAS DESTAS QUE VÃO FAZER COM QUE EU ME INSCREVA.

domingo, fevereiro 19, 2006

Pequenas vitórias.....

Sempre que tenho que ir buscar a nossa filha a casa de uma amiga, tenho que apanhar sempre seca. Primeiro apanho seca da minha mulher porque a filha é dos dois e que não pode ser sempre ela a ir buscá-la, e porque tem que fazer o jantar, e porque o facto de eu estar a ver as noticias, por ela, não é desculpa, e que sempre levanto o cu do sofá para fazer algo de útil, e teca teca teca. Assim, lá tenho eu que sair do quentinho. Pelo caminho vou treinando o sorriso parvo, para que quando me abrirem a porta, verem logo que eu estou bom, e que só ali venho, única e exclusivamente, para vir buscar a nossa filha. NADA MAIS.
Chego sempre à conclusão, que o meu sorriso parvo nunca é claro o suficiente, para mostrar as minhas verdadeiras intenções, e assim, algo que deveria de demorar poucos minutos, ou na minha perspectiva, segundos, demora sempre mais tempo do que a piza (que entretanto encomendei quando descobri o que era o jantar) demora a ficar pronta. E isto porque sou sempre obrigado a entrar:
- ….porque está tanto frio aí fora e a sua cara parece de quem está a sofrer com isso.- diz-me a mãe da amiga da nossa filha. È o que chega para que o meu sorriso parvo desapareça e que tente despachar rapidamente aquele meu sacrifício.
- Então ela já está pronta? – pergunto eu, enquanto sou empurrado para dentro da casa.
- Estão para ali a brincar. Mas entre. Não seja tímido. Tire o casaco.
- Não. Deixe estar. Não me posso demorar. Tenho que ir ajudar a minha mulher a fazer o jantar. Fiquei encarregado de……de……de fazer a sopa e as horas que são…..- digo eu enquanto olho para o relógio e abano a cabeça em sinal de desespero.
- Deixe lá isso. Já lhe mostrei a casa?
- Sim. Várias vezes e sempre que cá venho. – respondo eu, pondo novamente o sorriso parvo, para ver se fica clara a minha vontade de me ir embora.
- Você é tão engraçado. Venha ver o quarto da minha filha. Estive lá a fazer umas mudanças. Assim aproveitamos e chamamos a sua filha.
E lá sou eu arrastado, mais uma vez, para uma visita guiada.
- Repare como agora a cama dela ficou mais bonita. Parece mesmo que dorme numa maçã. Não é?
- Sim, que giro. – respondo-lhe, virando-me depois para a minha filha - Filha, vamos embora que a mãe tem uma surpresa para nós.
- Eu não quero comer as surpresas da mãe. – responde-me ela.
- Portaram-se tão bem. A sua filha é um amor. Vê-se mesmo que é muito bem educada. Queres mais umas bolachas ou um chocolate? – pergunta à minha filha.
- Não. Deixe estar porque está na hora do jantar, e depois a mãe dela bate-nos se nós não o comermos. – digo, enquanto meto uma das bolachas que me foi oferecida na boca, rapidamente e sem que a minha filha se aperceba disso.
Bom, finalmente lá consigo tirar a minha filha de lá. Depois de dizer adeus cinquenta vezes, porque o raio da mulher insiste em ficar à porta da rua até nós desaparecermos de vista, lá vamos buscar a piza, que entretanto já está fria, e chegamos a casa onde somos recebidos calorosamente:
- Mas é sempre o mesmo? Porque raio sempre que sais de casa para ir buscar a tua filha, regressas sempre com uma piza? ACABOU. PARA A PRÓXIMA VOU EU BUSCÁ-LA.

E reparem que nem foi preciso falar do suposto assédio sexual de que fui alvo.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Sintonia do amor.....

Existem aqueles momentos lindos na vida a dois em que tudo está em sintonia. Por exemplo:
- Então, porquê essa cara. – pergunta-me ela quando me vê chegar a casa.
- Temos que estar 4 dias sem ter sexo, por causa do espermograma. – respondo-lhe eu.
- A sério?????
- Isso excita-te tanto a ti como me excita a mim??
- Embora. – termina ela, levando-me para o nosso quarto.
Depois temos todos os outros momentos, ou seja, os momentos em que temos que estar em sintonia com ela. Por exemplo, imaginem que passaram a noite de volta dos papéis do IRS e descobriram que, ganhando o mesmo que no ano anterior e tendo sensivelmente as mesmas despesas, vão receber menos 1000 Euros de reembolso do que aquilo que têm vindo a receber nos últimos anos. Sendo o responsável financeiro desta família, trata-se de uma situação que considero grave o suficiente para que de manhã, durante a ida de 20 minutos para o emprego, tentasse encontrar alternativas para esta grave situação. Acontece que passo esses vinte minutos a caminho do emprego acompanhado pela minha mulher. Acontece que, enquanto um gajo vai a pensar em formas alternativas de fazer dinheiro para compensar a perda dos mil euros, temos ao lado alguém que não se preocupa com estas ninharias e apenas vê um gajo a suspirar e sem falar durante toda a viagem. Ora bem, todos os homens modernos sabem que se não falarem com a vossa companheira durante mais do que cinco minutos, e sem que haja uma televisão ao pé, elas, simplesmente, começam com as suas merdas de mulher. Ou seja: “Este *$%#& já não fala comigo….Ainda por cima é dia dos namorados….. Não é que eu ligue muito a isso….mas este *$%#& não fala comigo…..a nossa relação já não é o que era…..agora já nem falamos um com o outro a caminho do emprego…. pelo menos dantes ele ainda abanava a cabeça….mas hoje…logo no dia dos namorados…. não que eu ligue muito a essas americanices….mas….logo hoje….. GRANDE *$%#&….” Como é que eu sei todas estas coisas? Bom, podia dizer que tal se deve aos anos de convívio com ela, mas estaria a mentir. Obviamente que ela teve a gentileza de me gritar estas coisas quando eu já tinha estruturado um belo plano de marketing ligado ao meu negócio de exportação de bandeiras para o médio oriente.
Bom, tudo isto deu origem a um longo monólogo que, por sua vez, deu origem a que eu ainda esteja aqui a esta hora a escrever estas merdas com o computador em cima das minhas partes sensíveis e sem me preocupar muito com isso.
Há aqui uma óbvia lição a tirar, para manter a sintonia num casal é importante NÃO CONFIAR NAQUELA TRETA DOS REFLEXOS CONDICIONADOS DE PAVLOV E POR ISSO, SEMPRE QUE ELA FALAR, NUNCA ESQUECER DE ABANAR A CABEÇA.
Por outro lado, temos que ver o lado positivo da coisa: pelo que entendi do seu longo monólogo, penso que não irei ter grandes problemas em conseguir ficar 4 dias sem sexo.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Curtas da vida de casado.....

- Pai porque é que aqueles senhores estão todos irritados? – pergunta-me ao ver as noticias.
- Porque não gostaram de uns desenhos que uns outros senhores fizeram.
- Estavam assim tão feios? Eram como os que a mãe faz?
- Não filha, eram desenhos que mexiam com a sua religião.
- O que é a relegião?
- É quando as pessoas precisam de arranjar alguma coisa a quem possam culpar pelo mal que lhes acontece. Olha, para ti, a tua religião sou eu. Sempre que te acontece algo de mau, dizes que a culpa é minha.
- Mas foste tu que me disseste que não fazia mal eu abrir a torneira quando a mãe estava por debaixo do aspersor da relva.
- Bom….chega de conversa religiosa. Vai dizer à mãe que já acabei de pôr a roupa na máquina e que o jantar está na mesa, por isso – grito para que a minha mulher me oiça – JÁ PODE DEIXAR DE ESPIRRAR SÓ PORQUE FICOU UM BOCADINHO MOLHADA COM UMA SIMPLES BRINCADEIRA DE CRIANÇA.